Nos vários grupos de que participo no Facebook, costumo encontrar relatos queixosos de confrades que parecem ter estacionado nas pesquisas sobre um ou outro ramo de suas árvores – para não falar dos que acreditam haver estacionado em ambos os ramos. A situação parece desesperadora, mas tendo a acreditar que pode haver saídas, ainda que tudo o que se consiga encontrar sejam praticamente migalhas sobre as vidas de nossos antepassados.

A situação descrita costuma ocorrer com aqueles que se limitam a fazer buscas por assentos paroquiais ou documentos armazenados em conservatórias (em Portugal) e cartórios (no Brasil). Quem tem famílias muito antigas em uma localidade poderá se deparar com o facto de que haverá falhas nos registos de determinados épocas, tais como ausências de livros, livros danificados e informações incompletas.

Pesquisadores mais experientes, no entanto, sabem que podem recorrer a outras fontes: relatos familiares, fotografias, cartas, obras literárias, obras acadêmicas, periódicos e bases de dados institucionais e militares. Uma forma bastante rápida de superar as limitações dos registos paroquiais e similares é a pesquisa no Google, a qual deve ser feita com alguma estratégia para que se alcancem resultados.

Várias das fontes citadas já foram indexadas pelo Google, o que significa que será possível encontrar informações contidas nelas a partir de uma pesquisa nesse motor. Os resultados eventualmente obtidos talvez sejam parcos e esparsos – as citadas migalhas -, porém já serão de alguma ajuda na reconstrução de lacunas deixadas pela carência de registos paroquiais.

Um caso relevante para ilustrar o que digo é a reconstrução da história de vida do alfaiate português Maximiano de Macedo, cunhado de meu avô paterno. Graças a algumas das ferramentas que citei – e na ausência de relatos familiares – pude descobrir sua afiliação ao movimento anarquista, sua participação na fundação do sindicato que lutaria por direitos trabalhistas para sua categoria, sua atuação nos movimentos grevistas que ocorreriam no Rio de Janeiro na primeira década do século XX e das perseguições que sofreria em função de sua vida política.

Mesmo após todas essas descobertas a respeito de Maximiano, tive a boa sorte de encontrar – por meio do Google – a nota abaixo sobre sua participação na tentativa de evitar a entrada do Brasil na Primeira Guerra (1914-1919).

Correio da Manhã – 26/04/1917

A comissão da Federação Operária, como sabemos, não teve sucesso, pois o presidente Venceslau Brás (1868-1966) declararia guerra à Alemanha cinco meses após a entrega da mensagem citada na nota. A decisão do presidente teria outras consequências além de por fim a três anos de neutralidade brasileira:

Venceslau Brás declara guerra  à Alemanha
  • As valiosas exportações de café – de que o Brasil era então o maior fornecedor mundial – seriam prejudicadas pelo conflito;
  • As elites agrárias perderiam seu poder, o que culminaria no golpe militar que poria Getúlio Vargas na presidência na década de 1930;
  • A industrialização da economia brasileira tomaria um impulso importante diante da necessidade de substituir as importações;
  • O histórico alinhamento – que já existia em Portugal e sobreviveria ao Império – com a Inglaterra seria abandonado em favor de um novo alinhamento com os Estados Unidos;
  • A queda no poder de compra e a carestia produziriam revoltas populares e greves lideradas pelo emergente movimento sindical, do qual Maximiano, como vimos, era personagem relevante.

Para saber mais sobre a – lamentável – participação do Brasil na Primeira Guerra, recomendo este vídeo do jornalista Eduardo Bueno:

Canal Buenas Ideias – YouTube

José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista