O povo brasileiro como o conhecemos hoje foi construído graças à imigração – voluntária ou involuntária – e à miscigenação. A imigração involuntária deu-se durante os primeiros anos da colônia com a chegada dos indesejáveis da corte e, logo depois, com a crescente importação de milhões de africanos capturados e escravizados. A imigração voluntária deu-se ao longo da história e, principalmente, com a transferência da corte para a América como resultado das invasões napoleônicas.

Na transição do século XIX para o XX, principalmente devido à necessidade de substituir o trabalho escravo e à ideologia que pregava o embranquecimento de uma nação que já se apresentava claramente mestiça, abriram-se os portos para a entrada dos europeus. Muitos desses vieram com o sonho de fazer a América e com a promessa – muitas vezes frustrada – de receber terras para plantar. Na falta de terras, acabaram migrando para as cidades e constituindo a força de trabalho das primeiras fábricas e indústrias. Segundo Lucia Lippi Oliveira:

Intelectuais brasileiros construtores da teoria do “branqueamento” no início do século XX viam a vinda de imigrantes brancos como um bem. O imigrante, além de vir preencher uma demanda de braços para o trabalho, teria o papel de contribuir para o branqueamento da população, ao submergir na cultura brasileira por meio da assimilação.

Se por um lado esses europeus se mostravam trabalhadores, por outro também se revelariam inconformados com as condições de trabalho que encontravam nas fábricas. E foi assim que se mobilizaram e criaram as primeiras estruturas sindicais do país. Como consequência, foram por isso alvo de perseguições e até de expulsões. Segundo Lucia Lippi:

A exploração e a falta de qualquer proteção ao trabalho, por sua vez, geram movimentos de resistência que se desenvolvem primeiro sob influência do anarquismo, e depois do comunismo. A preocupação com a defesa da “ordem” faz aprovar a Lei Adolfo Gordo, que permitia expulsar do Brasil os estrangeiros envolvidos em atividades subversivas e os criminosos.

Após a Primeira Guerra (1914-1919), cresceram os movimentos nacionalistas e com eles a visão de que a mão de obra estrangeira concorria com a nacional. O imigrante passou a ser visto com desconfiança e se tornou alvo de preconceitos. Mesmo os portugueses, que pela familiaridade da cultura e do idioma poderiam ser vistos como irmãos, tornaram-se alvo de perseguições. Ao mesmo tempo, era comum que nutrissem algum preconceito em relação aos brasileiros que empregavam em seus comércios – os quais eram por eles considerados preguiçosos.

Lippi Oliveira afirma que “um período de imigração em massa da Europa para a América aconteceu entre 1870 e 1930”, quando de 30 a 40 milhões de europeus atravessaram o Atlântico. Foi nessa corrente inicial que chegaram meus avós paternos. Eles aqui ficaram e se assimilaram, jamais voltando à Europa. Também segundo a autora, essa corrente declinaria nos anos de 1930 para voltar a crescer entre 1950 e 1963, quando 40% dos imigrantes recebidos eram portugueses.


José Araújo é linguista e genealogista.