Um facto da vida que o genealogista amador descobre em pouco tempo é que os párocos de outrora tinham péssima grafia. Outro facto, que talvez seja descoberto por acaso, é que aqueles párocos eram atarefados e nem sempre faziam imediatamente os registos nos livros paroquiais. Há inúmeros casos de párocos que anotavam as informações dos sacramentos em folhas avulsas que poderiam ficar perdidas ou esquecidas. Nem é preciso muita imaginação para perceber o risco envolvido nisso.

Domingos da Cunha (1698-1759), meu antepassado de sete gerações, foi filho de um homônimo casado com outra mulher de quem não descendo. O batismo do jovem Domingos foi celebrado em 4/12/1698, provavelmente logo após seu nascimento, mas o reverendo abade Serafim não fez a anotação no livro de batismos da paróquia e sim em outro suporte, como foi declarado por seu sucessor Manuel mais de um ano depois.

Abaixo a transcrição com meus destaques:

Aos 4 dias do mês de dezembro batizou o Reverendo Abade Serafim de Barros, meu antecessor, a Domingos, filho de Maria da Fonseca, solteira ou viúva. Deu-lhe por pai a Domingos da Cunha, homem casado desta mesma vila. Foram padrinhos Manoel da Cunha e Maria Borges, mulher de Manoel Ribeiro, todos desta vila. Declaro que foi feito o dito batismo a quatro de dezembro de mil seiscentos e noventa e oito e não se fez logo o assento no livro porque faleceu o reverendo abade. E agora achei uma lembrança feita por sua letra em um papel particular de que fiz este termo por traslado dela hoje, 4 de fevereiro de 70.

Não tivesse o sucessor encontrado tal lembrança feita “em papel particular”, eu não teria o registo de batismo de meu antepassado e tampouco saberia de seu status de filho ilegítimo.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista