Aos dez dias do mês de setembro de 1775, nesta igreja paroquial de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, batizei e pus os santos óleos a Antônio, filho de Antônio Soares da Silva, natural e batizado nesta freguesia, e de sua mulher Tereza Maria de Jesus, natural e batizada na freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, neto por parte paterna de José Soares da Silva, natural e batizado na freguesia de São Salvador de vila de Pereira Jusã, bispado do Porto, e de Maria Álvares Ferreira, natural e batizada na freguesia da Sé do Rio de Janeiro, e pela materna de Antônio da Silva da Fonseca, natural de Portugal não sabe de onde, e de Josefa Barboza de Matos, natural e batizada na freguesia de São João do Meriti. Foram padrinhos Felipe dos Reis e João Árias de Aguirre, todos desta freguesia. De que fiz este assento. – o vigário Francisco de Araújo de Macedo

O menino Antônio, cujo assento se lê acima, cresceria para se tornar um importante cafeicultor e proprietário de escravos em Bananal de Itaguaí, hoje Seropédica, no Rio de Janeiro, no século XIX. Seus três filhos (João Antônio, Francisco e Manuel) e sete filhas (Inez, Tereza, Maria Tereza, Joana, Faustina, Jesuína e Joaquina) se casariam com membros de outras famílias locais, principalmente com os filhos de Francisco Antônio Pereira Belém, outro cafeicultor e proprietário de escravos da região. Tenho razões para acreditar que descendo de uma ou outra dessas famílias ou ainda de ambas, graças aos inúmeros casamentos realizados entre seus membros.

Analisando o ramo materno da família de Antônio Soares da Silva, encontrei o assento de batismo de sua mãe em um dos livros da freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande. Esse assento está transcrito a seguir:

Aos trinta dias do mês de junho de mil setecentos e quarenta e seis, nesta igreja paroquial Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, batizei e pus os santos óleos a Tereza, filha legítima de Antônio da Silva, morador no […] desta freguesia e natural e batizado na freguesia de Santo André de Portela, bispado de Lamego, filho legítimo de Antônio Pinto Fonseca, natural do mesmo bispado, e de Tereza Ribeiro de Jesus, natural da cidade do Porto; e de sua mulher Josefa de Matos Barbosa, natural e batizada na freguesia de São João de Meriti […], filha legítima de Antônio Barbosa de Matos, natural da Rifana de Sousa, e de Mariana de Matos Coutinho, natural da mesma […]. […] a qual nasceu dia [seis] do dito mês de junho era [acima]. De que fiz este assento em que […] assino.

Tereza Maria de Jesus, portanto, era neta materna de Antônio Barbosa de Matos e Mariana de Matos Coutinho, esta uma das filhas do casal Baltazar de Matos (1636-1726) e Catarina Duarte Coutinho (1650-1726), citados na obra Primeiras Famílias do Rio de Janeiro, de Carlos Grandmasson Rheingantz, com retificação posterior por Geraldo Pontes Araújo publicada na Carta Mensal Nº 117, de Set-Out 2013, do Colégio Brasileiro de Genealogia.

O patriarca Antônio Soares da Silva, portanto, descendia dos pioneiros portugueses estabelecidos no Rio de Janeiro, o que eleva minha ancestralidade materna a um ramo até mais remoto do que o que já tinha alcançado em meu ramo paterno português.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista

3 comentários

Patrono – Genealogia Prática · 27 de novembro de 2020 às 08:55

[…] bisnetos do português Antônio Barbosa de Matos e da brasileira Mariana de Matos Coutinho, esta descendente dos primeiros moradores do Rio de Janeiro, segundo o genealogista Carlos Grandmasson Rheingantz (1915-1988), fundador do Colégio Brasileiro […]

Melanização – Genealogia Prática · 1 de janeiro de 2022 às 07:02

[…] da Silva, descendentes de Antônio Soares da Silva (1775-1857), cujos ascendentes estão entre os primeiros moradores da cidade do Rio de Janeiro , alguns inconfidentes e até um membro do Tribunal do Santo Ofício. Casaram-se também com os […]

Belém – Genealogia Prática · 18 de maio de 2022 às 10:32

[…] Meu bisavô João Pereira Belém (1848-1921) foi o primeiro de seu ramo paterno a carregar esse sobrenome composto, que pertencia a uma das famílias mais importantes de Bananal de Itaguaí, hoje Seropédica, no Rio de Janeiro. Era uma família de fazendeiros cujo suposto patriarca teria sido um Francisco Antônio Pereira Belém, que com sua mulher Joana Maria de Jesus (1760-1834) teve sete filhas e quatro filhos. Os descendentes de Francisco Antônio e Joana Maria casaram-se várias vezes com os descendentes do também fazendeiro Antônio Soares da Silva, cuja família materna já estava estabelecida no Brasil desde a primeira metade do século XVII. […]

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