Segundo a Genealogia Paulistana de Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852 – 1919), minha decavó materna Mariana Pedroso de Moraes (1637-?) era filha de Pedro de Moraes Madureira, neta de Pedro de Moraes Dantas e bisneta do patriarca Baltazar de Moraes Dantas, cuja história já contei aqui. Também segundo Silva Leme, Carlos de Moraes Navarro (1634-?), irmão de Mariana, casou-se com Maria Raposo, filha do bandeirante Antônio Raposo Tavares (1598-1658). Do consórcio de Carlos Navarro e Maria Raposo originou-se uma linhagem que, no século XVIII, se estabeleceria em São João Del Rei durante o ciclo do ouro.

Foi em São João del Rei que nasceu Maria da Assunção de Moraes (1721-1763), bisneta de Carlos Navarro. De seu casamento, em 21 de novembro de 1735, com o capitão-mor Lourenço Corrêa Sardinha, natural de Arganil, bispado de Coimbra, nasceu Escolástica Maria de Jesus Moraes (1745-1823), que se casou em 9 de janeiro de 1764 com o sargento-mor José Leite Ribeiro. Deste último casal nasceu Francisca Bernardina do Sacramento Leite Ribeiro (1781-1864), que se casou com Francisco José Teixeira (1780-1866), dando origem à linhagem dos Teixeira Leite, de grande protagonismo político e econômico no território fluminense.

Francisca e Francisco tiveram onze filhos, sete dos quais foram trazidos de Minas Gerais pelo tio materno Custódio Ferreira Leite para a região do Vale do Paraíba fluminense para ajudar na construção da Estrada da Polícia, caminho cuja abertura fora ordenada por D. João VI para ligar o interior à capital do império. O único filho do casal que não foi levado pelo tio Custódio foi Joaquim José (1812-1872), que fora enviado a São Paulo para estudar Direito. Toda a família algum tempo depois se estabeleceria no vale do Paraíba, onde passaria a atuar na economia cafeeira.

Em 15 de agosto de 1843, o já comendador Joaquim José Teixeira Leite, filho do já barão de Itambé Francisco José Teixeira, casou-se com Ana Esméria Correa e Castro (1827-1871). Ana Esméria pertencia a uma das famílias de cafeicultores de Vassouras, portanto se tratou de um casamento dentro da elite cafeeira, que unia a família de um produtor (barão) à de um comerciante e financista (comendador). O casal teve três filhos: um menino falecido na infância, Francisca (1845-1899) e Eufrásia, caçula nascida em 15 de abril de 1850, como descobrimos pela leitura de seu assento de batismo, que é exibido e transcrito a seguir.

Aos três de junho de mil oitocentos e cinquenta, nesta igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Vassouras batizei e pus os santos óleos à inocente Eufrásia, que nasceu a quinze de abril do mesmo ano, filha legítima do comendador e Doutor Joaquim José Teixeira Leite, natural de São João d’El Rei, e de Dona Ana Esméria Teixeira, natural desta freguesia, neta paterna do Exmo. Barão de Itambé, materna do comendador Lauriano Corrêa e Castro, e de Dona Eufrásia Joaquina Corrêa; foram padrinhos o comendador Francisco José Teixeira Leite e Dona Mariana Corrêa e Castro; de que para constar mandei fazer este assento.

Eufrásia Teixeira Leite (1850-1930) teve a educação esmerada esperada de uma jovem de sua condição, mas seu pai deve tê-la preparado para conduzir os negócios da família. Com a morte de seus pais e de sua avó materna, no início da década de 1870, Eufrásia e sua irmã herdaram uma fortuna considerável, na qual se incluía a chácara em que moravam. A economia cafeeira já dava sinais de esgotamento e as irmãs, que possuíam também ativos do capital financeiro, venderam suas ações e títulos, fecharam a casa e foram viver em Paris. Na França, elas multiplicaram sua riqueza na bolsa de valores e participaram da vida social parisiense, gozando inclusive da amizade da Princesa Isabel, que já se encontrava no exílio.

Embora tenha sido uma mulher muito inteligente, bela e rica, Eufrásia jamais se casou, mas manteve por muitos anos um romance com Joaquim Nabuco, com quem chegou a ter um compromisso de noivado que foi desfeito várias vezes. O noivado teve oposição do barão de Vassouras, seu tio, pois o noivo não só tinha afinidades políticas liberais – a família dela era conservadora -, mas também era abolicionista, enquanto ela pertencia à elite escravocrata fluminense. Cartas trocadas entre eles sugerem que tiveram um relacionamento bem além dos padrões da época para jovens de sua posição social.

O retorno definitivo de Eufrásia ao Brasil – sua irmã morreu em Paris em 1899 – ocorreu em 1928. Ela passou temporadas na chácara de Vassouras, sem vida social, mas viveu seus últimos dias em Copacabana, na companhia de seus empregados. Por não ter parentes a quem deixar sua imensa fortuna, esta foi legada em testamento a instituições de caridade da cidade de Vassouras. A casa onde Eufrásia viveu é hoje o Museu Casa da Hera.

Assista ao vídeo abaixo e leia esta obra da historiadora Eneida Queiroz para saber mais sobre essa mulher tão à frente de seu tempo.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista