Em termos genealógicos, encontrar um assento rico em detalhes sobre os familiares dos registrados é o mesmo que encontrar um tesouro. Um assento detalhado ajuda a esclarecer pontos obscuros da biografia de um antepassado e pode acrescentar novos ramos a uma árvore de costados na qual existem várias “vias sem saída”.
O que apresento abaixo é um desses tesouros, o primeiro que encontro em minha árvore. O casal não está na minha ascendência direta. A noiva era irmã de um antepassado de cinco gerações – José António dos Santos, que tinha a alcunha (apelido) de “Morgado”.
Aqui a transcrição, quase um testamento:
Aos nove dias do mês de junho de 1778 anos, nesta paroquial igreja colegiada de Nossa Senhora da Assunção de Barcos, na minha presença e das testemunhas abaixo declaradas, e na forma do sagrado concílio tridentino e constituição deste bispado, contraíram de presente o sacramento do matrimônio José Martins da aldeia de Sendim, freguesia da mesma vila, de que me apresentou correntes as proclamas, e onde foi batizado, filho legítimo de Manoel Martins e Bernarda Soeira, da dita aldeia e freguesia, onde foram batizados, recebidos e estão sepultados, sendo o primeiro matrimônio da parte de ambos, e Clara Maria, filha legítima de Antonio dos Santos, o Morgado de alcunha, e de Anna da Assunção, todos naturais desta vila de Barcos, em cuja igreja foram batizados e os ditos pais foram também recebidos, sendo primeiro matrimônio da parte de ambos: o contraente José Martins é neto paterno de Domingos Gomes e de sua mulher Maria da Silva, naturais da dita aldeia de Sendim, e pela parte materna é neto de Rafael Gomes e de sua mulher Bernarda Soeira, também naturais da dita aldeia de Sendim e todos já falecidos. A contraente Clara Maria é neta pela parte paterna de Antonio Gil, desta vila de Barcos, em cuja igreja foi batizado, e de sua mulher Maria João, natural do lugar de Adorigo, em cuja igreja foi batizada e nesta de Barcos foram recebidos e estão sepultados, sendo o primeiro casamento da parte de ambos, e pela parte materna é neta de José de Carvalho e de sua mulher Maria da Silva, naturais desta vila de Barcos, em cuja igreja foram batizados, recebidos e estão sepultados, sendo o primeiro casamento da parte de ambos. Para este casamento houve o consentimento dos pais da dita Clara Maria e foram testemunhas presentes o Doutor José Caetano Leitão, os padres José de Macedo Pinto e Pedro de Araújo, o padre sacristão José de Gouvea Cardoso, e muitas mais gentes do povo que se achava na igreja, e por verdade fiz este termo de assento, que assinei com as testemunhas, dia, mês e ano ut supra.
Certamente o fato de os noivos serem de paróquias diferentes fez a diferença. Da mesma forma que fez o cuidado do pároco.
O achado ainda apresenta dois novos padres que devem ser da família – José de Macedo Pinto, que tem o mesmo sobrenome de minha bisavó paterna, e Pedro de Araújo – o que aumenta seu valor ao sugerir novas frentes de pesquisa.
José Araujo é linguista e genealogista.