Suposições

Tenho estudado a descendência do cristão-novo Duarte Nunes faz algum tempo. Por depoimentos prestados ao visitador Heitor Furtado de Mendonça, na primeira visitação do Santo Ofício à Bahia, sabe-se que ao menos ele, seu filho Domingos Nunes (Sardinha) e seu genro Pero Neto viviam em Porto Seguro nos idos de 1580 quando se envolveram em atritos com o pároco local. Na década seguinte, esses três personagens – e certamente outros parentes – já se encontravam no Rio de Janeiro, onde não apenas conseguiram terras, mas também tiveram grande descendência, a qual ficou livre de problemas com a Igreja durante bastante tempo. Muito do que pude descobrir sobre Duarte foi resultado da análise tanto dos depoimentos prestados ao visitador, quanto de registros paroquiais e de terras, de obras de grandes genealogistas como Rheingantz e Belchior e, finalmente, da observação dos usos e costumes dos cristãos-novos portugueses, tais como os casamentos endogâmicos e a escolha de nomes de batismo dos filhos em homenagem a avós e tios.

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Casamento

… [o sacramento do matrimônio] se consolidou apenas no século XIII. A partir do Concílio de Trento, em 1545, a Igreja desenvolveu uma doutrina em torno do matrimônio, estabelecendo, inclusive, a necessidade do consentimento dos cônjuges e de seus pais, encarregados de proverem dotes ao casal. | Mary Del Priore – Histórias da Gente Brasileira – Volume 1

Embora fosse considerado uma necessidade para a coabitação entre homem e mulher e o reconhecimento da legitimidade da prole, nem sempre o casamento era uma possibilidade, pois os custos envolvidos eram altos. As taxas que a igreja cobrava pela burocracia matrimonial (banhos e dispensas de consanguinidade) estavam além das posses da maioria da população. Não era, por isso, incomum que os casais vivessem amancebados ou, com a vigência do código civil, casados apenas pelo civil. Muitos ainda protelavam o casamento até os 25 ou 27 anos em regiões como Trás-os-Montes. No sul, ao contrário, casava-se mais cedo, antes dos 24 anos.

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