Afirmei aqui inúmeras vezes que as fontes primárias para a pesquisa genealógica são os assentos paroquiais – e certidões cartoriais ou de conservatória – de batismo, casamento e óbito. É a partir dessas fontes que obtemos datas precisas, nomes de pais, avós e padrinhos e testemunhas que podem ser aparentados das pessoas nomeadas.

Não obstante a centralidade desses documentos, que costumam exigir a leitura detalhada de centenas e até milhares de registros em livros escritos com uma grafia nem sempre muito regular ou legível, é possível recorrer a atalhos. Exemplos desses atalhos são os bancos de dados acadêmicos e militares, afinal, para ser matriculado nessas instituições era necessário fornecer informações sobre origem geográfica e a família. Uma descoberta que fiz recentemente demonstra o potencial dessa bases de dados para a pesquisa por antepassados.

Mathias Gonçalves Rebosa (1791 – ?), foi meu tetravô pelo lado de minha avó paterna. Ele casou-se com Catarina da Gracia Lopes em 21 de janeiro de 1817 e foi pai de Antônio Gonçalves Rebosa (1820 – ?), meu trisavô. Como meu foco inicial era a ascendência direta, não me preocupei em descobrir se Antônio tivera irmãos, pois isso exigiria buscar registros de batismo anteriores a 1817 – para o caso de haver filhos ilegítimos – e posteriores a essa data na região de São Mamede de Ribatua, Alijó, Vila Real.

Na tentativa de ganhar tempo, decidi fazer uma busca inicial na base de dados GERMIL, na esperança de encontrar homens da família Rebosa que tivessem deixado vestígios na vida militar. De fato, encontrei quatro nomes relacionados a essa família, sendo um deles Joaquim Gonçalves Rebosa, cujo registro de matrícula no Livro nº 58 – Livro de Matrícula do Pessoal do Regimento de Infantaria nº. 6, Registo das Praças de Pret., de 1873, pode ser visto abaixo. Esse registro confirma não apenas o nome do pai de Joaquim e o local de nascimento – Matias Rebosa, Alijó, São Mamede de Ribatua -, como sugere um ano de nascimento – 1824 – e ainda fornece uma descrição física e a data exata de seu óbito – 4 de junho de 1855.

A partir dessas informações, foi possível encontrar o assento de batismo de Joaquim, pelo qual se pode retificar a data de nascimento – 2 de setembro de 1825 -, o que o fazia mais novo que meu trisavô. Esse assento pode ser visto abaixo.

Batismo de Joaquim Rebosa – 2/09/1825 – São Mamede de Ribatua, Alijó, Vila Real

Como os dados do registro militar estão digitalizados, foi possível encontrar a referência onde consta que Joaquim Rebosa foi recrutado com “25 anos”, em 12 de dezembro de 1849 (imagem 85), e faleceu depois de alguma doença que o deixou internado por 44 dias no hospital militar (imagem 86). Esta última referência pode ser vista abaixo.

Atalhos como os arquivos acadêmicos e militares podem, portanto, acelerar bastante as pesquisas genealógicas e fornecer informações que nem sempre estão disponíveis em fontes paroquiais.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista