Desde que comecei a fazer pesquisa pela história de minha família, aprendi muito sobre o fazer genealógico. Aprendi, por exemplo, que a Genealogia é uma ciência multidisciplinar, pois se vale de fontes da História, da Geografia, da Biologia (Genética) e de muitas outras áreas do conhecimento. Mas aprendi também que nem todo o conhecimento científico é suficiente para resolver os problemas que enfrentamos na pesquisa, e é por isso que outro aspecto dessa ciência se torna relevante: seu caráter colaborativo. De facto, qualquer pesquisador com alguma experiência descobre que seu progresso depende do esforço e resultado da pesquisa de terceiros. Finalmente, descobri que a pesquisa genealógica pode ser realizada com ou sem fins lucrativos, mas em todos os casos deve respeitar padrões de qualidade e princípios éticos. É destes últimos que trato aqui.
Em minha participação em fóruns públicos sobre o tema, pude acompanhar algumas querelas decorrentes de problemas que envolviam desde a apropriação de pesquisas alheias sem o devido crédito até o questionamento de práticas de alguns profissionais que vendiam seu trabalho para terceiros. Acredito que a falta de princípios éticos claramente declarados e – principalmente – seguidos esteja na base de várias dessas querelas. Não pretendo aqui estabelecer padrões, mas apenas contribuir para a discussão sobre a necessidade de princípios éticos no fazer genealógico, que é um tecido que se tece com método e por muitos tecelões.
É com esse objetivo que proponho alguns desses princípios e os organizo por tema:
Sobre a atribuição de autoria:
- Não atribuir a si o mérito de pesquisa alheia, ou seja, dar crédito a dados que tenham sido produzidos por outros pesquisadores (genealogistas ou não) e que venham a ser usados em sua pesquisa;
- Citar fontes consultadas em formato padronizado (ABNT).
Sobre o respeito à veracidade:
- Não editar árvores em repositórios públicos abertos (p.ex. FamilySearch) de modo a introduzir informações falsas;
- Não editar árvores em repositórios públicos abertos de modo a remover informações verídicas;
- Não propagar noções falsas a respeito de questões genealógicas (p.ex. sobrenomes alusivos a plantas indicam ascendência cristã-nova).
Sobre a prestação de serviços profissionais:
- Registrar em contrato escrito precisamente o que será entregue ao cliente bem como os limites do serviço prestado.
Sobre a colaboração com os pares:
- Responder de forma cortês a pedidos de informação sobre genealogias que sejam de seu domínio e tenham sido publicadas de forma aberta;
- Não se envolver em polêmicas relacionadas a questões genealógicas.
Sobre o direito relativo aos dados pessoais:
- Não fazer uso de dados genéticos de terceiros sem antes obter sua permissão e explicar precisamente a que fim se destina esse uso.
José Araújo é genealogista.