A pesquisa genealógica é feita a partir da busca e interpretação de fontes, principalmente de assentos paroquiais, mas não restrita a elas, como já expliquei em outro texto. Uma fonte ainda não abordada, entretanto, são as próprias pesquisas genealógicas, especialmente aquelas feitas há séculos e que podem ser úteis quando os assentos paroquiais para as freguesias de interesse foram perdidos em incêndios ou não estão disponíveis para a consulta.
Essas fontes eram comuns quando as famílias estudadas tinham alguma ligação com a nobreza, casos em que as árvores podem avançar nos séculos. Em minha árvore familiar tive a oportunidade de contar com uma dessas fontes – o Nobiliário de Famílias de Portugal. O caso envolvia a descoberta das origens da família de Dona Maria Adelaide de Sá Menezes, que adquiriu a fama de santa 38 anos depois de morta.
A surpresa foi descobrir que a fonte consultada apresentava um erro, provavelmente não intencional – embora o desejo de falsear origens nobres tenha justificado muitos erros intencionais ao longo dos séculos. O erro em questão foi encontrado no nome da bisavó paterna de Maria Adelaide. No texto do nobiliário que se vê abaixo, informa-se que sua bisavó se chamava Dona Rosa Umbelina de Lourenço e Vasconcelos.
No entanto, o assento de batismo de seu avô informa outro nome, como se vê abaixo:
Aqui a transcrição:
Aos dezenove dias do mês de junho de 1755 batizou solenemente nesta igreja de Santa Maria de Guimarães com licença minha o reverendo cônego Vicente do Rego da cidade da Guarda a Isidoro, filho legítimo de Cristóvão de Almeida Amado de Sá e Menezes, natural desta freguesia, e de sua mulher Dona Luiza Bernarda Saraiva da Costa [Refoios], natural da cidade da Guarda. Tem avós paternos Isidoro de Almeida de Sá Amado e Menezes e Dona Rosa Umbelina de Vasconcelos, naturais desta freguesia de Santa Maria. Tem avós maternos Pedro Saraiva da Costa Pereira e sua mulher Dona Maria Micaela de Almeida de [Leitão], naturais da cidade da Guarda. Foram padrinhos seus avós paternos Isidoro de Almeida de Sá e Menezes e Dona Rosa Umbelina e para constar fiz este termo que assinei dia, mês era ut supra. – o abade Domingos Luis de Barros
A mãe de Isidoro, avô de Maria Adelaide, chamava-se Luiza Bernarda Saraiva da Costa. Dona Rosa Umbelina era avó de Isidoro, portanto trisavó de Maria Adelaide. Trata-se de um erro detectável pela pesquisa de fontes paroquiais, mas apenas porque essas fontes ainda existem. Se não existissem, introduziriam erro na árvore e na história familiar.
Na consulta de fontes como as genealogias, portanto, há que ter muita atenção e, sempre que possível, recorrer às fontes paroquiais originais.
José de Araújo é linguista e genealogista.