É interessante observar crescimento do interesse pelos testes genéticos em pessoas sem conhecimento específico na área, mas que se interessam em conhecer sua história familiar. Essas pessoas engrossam a quantidade de membros de páginas no Facebook dedicadas a esses testes. Ainda mais interessante é descobrir que essas pessoas buscam as páginas na tentativa de fazer sentido das informações que recebem das empresas que analisaram seus DNAs. Eu pergunto: mas não seria obrigação dessas empresas prover esse sentido?
E respondo: sim e não. As empresas, de fato, oferecem alguma explicação, mas ela é por demais genérica e fragmentada para permitir que cada cliente obtenha aquilo que deseja: um mapa do caminho que sua família percorreu pelos continentes ao longo dos séculos. Além disso, o mapa fornecido por cada empresa é diferente, pois cada banco de dados é construído a partir de quantidades diferentes de usuários. Finalmente, há que se levar em conta o facto de grande parte das empresas estar localizada nos EUA e ter suas bases criadas majoritariamente a partir dos resultados de testes feitos pelos moradores desse país.
Quando as tais bases de dados ficarem maiores e incorporarem resultados de outras regiões do mundo, talvez tenhamos resultados menos discrepantes, mas isso não significará que esses resultados venham a fazer o sentido procurado pelos clientes, pois isso não é possível. E para entender o porquê dessa impossibilidade é importante conhecer alguns factos básicos que podem passar despercebidos aos clientes:
- Se você é homem, poderá testar tanto o DNA mitocondrial, que investiga sua linha materna, quanto o DNA-Y, que investiga sua linha paterna, e o autossômico, que investiga percentuais herdados de seus ancestrais de ambos os costados;
- Se você é mulher, poderá testar apenas o DNA mitocondrial e o autossômico. Se tiver pai ou irmãos vivos, terá a sorte de também poder conhecer, indiretamente, sua herança paterna se eles fizerem o teste de DNA-Y;
- Testes de DNA não informam realmente de onde sua família veio no passado, mas onde existem, hoje, pessoas com as mesmas características genéticas que você herdou de seus antepassados;
- Nações ou povos atuais não correspondem a povos antigos.
Sobre o último facto, posso citar o exemplo da Península Ibérica, que foi ocupada por povos autóctones, celtas, berberes, fenícios, itálicos e germânicos, povos que podem ter deixado traços genéticos detectáveis – ou não – nos portugueses e espanhóis contemporâneos. Cada português contemporâneo – ou descendente brasileiro de um português emigrado – terá uma herança e uma mescla específica desses povos – ou de nenhum deles, pois herança genética é algo muito complexo.
Resumindo tudo isso, podemos concluir que ninguém deve acreditar que poderá fazer um teste genético – ou três – e descobrir a história de sua família. Quem deseja isso deve fazer pesquisa genealógica, que envolve a longa e por vezes infrutífera busca por documentos em diferentes países, não raramente escritos de forma quase incompreensível. A combinação de pesquisa genealógica e testes genéticos pode, em alguns casos, trazer resultados positivos.
Os testes genéticos são mais rápidos e sedutores que as longas e muitas vezes infrutíferas buscas por certidões e assentos paroquiais, entre outros documentos. E são mais baratos que as buscas feitas por genealogistas profissionais. Mas, de modo geral, prometem algo que não podem entregar à maioria dos clientes. Para saber mais sobre esses testes, recomendo a leitura do livro específico na coleção Genealogia Prática.
José Araújo é linguista e genealogista.