Não me lembro de ter visto muitas postagens em grupos de genealogia no Facebook em que alguém perguntava o que é genealogia – mas isso ocorreu recentemente. Parece óbvio que quem se inscreve nesses grupos deveria ter alguma noção – por mais simples – do que trata o grupo. Mas vamos deixar a arrogância de lado e entender que a curiosidade e o desejo de aprender são razões mais que válidas para se associar a eles. Aqui espero dar minha contribuição para responder esse questionamento, mas não vou explicar o que é genealogia, pois essa explicação pode ser encontrada na Wikipédia. Vou explicar que movimentos ou motivações trazem pessoas de todas as origens e condições sociais ao universo apaixonante dessa ciência.
Uma razão bastante comum pela qual se chega à genealogia é a busca das origens familiares. Podemos incluir neste universo desde pessoas que querem saber de onde vieram seus antepassados até quem foi adotado e procura descobrir a identidade de seus pais biológicos. Eu mesmo já me vi neste grupo, pois há muitos anos quis descobrir as origens de meus avós paternos portugueses, que era desconhecida até mesmo por meus tios-avós. A suposição inicial de que seriam de Trás-os-Montes acabou não se revelando precisa, pois apenas minha avó poderia ser considerada natural dessa província, já que nascera em Vila Real. Meu avô era natural de Viseu. Ainda me vejo neste grupo por conta da busca dos antepassados maternos, que se ligam de forma ainda não totalmente esclarecida às árvores de cafeicultores fluminenses – os Pereira Belém e os Soares da Silva – cujos membros casaram-se entre si inúmeras vezes. A pesquisa documental e a genética têm trazido evidências que me ajudarão a elucidar minha ligação a essas famílias.
Dentro do universo anterior há um subgrupo que o que importa é a busca de possíveis origens nobres para seus antepassados, processo que pode acabar sendo frustrante para a maior parte dos interessados. Para uns poucos sortudos, no entanto, pode haver uma descoberta riquíssima, pois as famílias nobres tinham genealogias bem desenvolvidas, por meio das quais pode-se avançar pelos séculos. Não me encontro neste subgrupo, mas reconheço que seria fascinante poder conhecer de forma tão profunda minha história familiar.
Outra razão pela qual se chega à genealogia é a descoberta de novos ramos familiares e de parentes que sejam nossos contemporâneos. Isso pode acabar sendo uma consequência natural do movimento inicialmente descrito: quando subimos pela árvore até as gerações mais antigas, acabamos chegando a um ponto em que fica mais difícil encontrar registros documentais, e uma estratégia útil nesses casos pode ser a descida pelos inúmeros ramos originados por nossos tios, tios-avós, tios-bisavós e assim por diante. Um desses ramos laterais pode trazer novas evidências que ajudem na busca por documentos e até algumas boas surpresas. Eu me vejo neste grupo, pois tive a grata surpresa de encontrar, por meios documentais, dois futebolistas brasileiros que pude incluir na árvore familiar – um é primo distante de um ramo paterno português e outro, mundialmente conhecido, primo de uma tia materna.
A busca de outra cidadania é uma razão bastante comum para a busca da genealogia e dos genealogistas – talvez mais frequentemente destes últimos, pois quem busca cidadania geralmente tem pressa e não deseja investir muito tempo na busca de documentos, que pode acabar se revelando infrutífera. Nesses casos, o pragmatismo costuma sobressair em relação ao prazer de cada descoberta que se poderia fazer na subida pelos ramos da árvore familiar geração a geração. Já me vi também nesta situação, mas não deixei o pragmatismo substituir o prazer da descoberta.
Para conhecer o largo espectro de razões, instrumentos e estratégias da genealogia, recomendo a leitura de 100 Perguntas & Respostas sobre Genealogia, disponível no formato e-book.
José Araújo é genealogista.