Na língua portuguesa, as palavras padre e pai têm significados distintos. Sua raiz etimológica, no entanto, é comum: o acusativo latino de paterpatrem -, que significava pai. Mas o que dizer quando o padre e o pai são a mesma pessoa, como no caso de Luís de Amaral, meu antepassado de seis gerações?

A informação sobre a paternidade de Luís foi inicialmente encontrada em seu assento matrimonial, que pode ser visto transcrito abaixo:

Aos vinte e um dias do mês de julho de mil setecentos e quarenta e três anos, em minha presença, se receberam em face de Igreja, na forma do sagrado concílio tridentino e constituições do bispado, Luís de Amaral, filho natural do padre José de Amaral, da Granja do Tedo, e de Anna Luis, desta vila, com Maria Clara Pereira, filha legítima de Ignácio Pereira e de sua mulher Clara Pereira, todos desta vila. Foram testemunhas Domingos Luís José de Almeida e Luíza da Fonseca e muita mais gente desta freguesia de que fiz este termo que assinei era ut supra.

O assento de batismo foi também localizado e transcrito, e é interessante observar a emenda feita pelo pároco:

Aos quinze dias do mês de setembro de mil setecentos e onze, batizei e pus os santos óleos a Luís, filho de Anna Luís. Não quis nomear pai, digo, deu por pai o padre José de Amaral, da Granja do Tedo. Fiz, assinei dia, mês era ut supra.

Teria Anna se arrependido e decidido nomear o pai de seu filho ilegítimo ainda durante o registro? Ou teria o pároco tido algum pudor de fazer o registro de paternidade de um igual?

Embora a Igreja seja hoje mais rígida em relação à possibilidade de seus quadros gerarem prole, a existência de filhos de padres sempre foi conhecida tanto no Brasil quanto em Portugal.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista