Theodora Maria da Conceição é minha bisavó materna e uma personagem bastante complexa de minha árvore familiar. A complexidade se deve ao fato de haver evidências discordantes relativas ao ano de seu óbito, ausência de informações objetivas sobre seus pais e também a respeito de sua cidade de nascimento – Nova Iguaçu ou Itaguaí.

Uma questão polêmica envolvendo minha bisavô diz respeito ao status de seus antepassados. Existe a possibilidade de terem sido escravos, porém nenhuma evidência foi encontrada até o momento. Nesse contexto, a descoberta que apresento abaixo – se de fato disser respeito a minha bisavó – apenas acrescentaria mais complexidade a essa personagem de minha árvore:

Batismo de Manuel – 1/01/1886 – Itaguaí

Aqui a transcrição com meus destaques:

No primeiro de janeiro de 1886 batizei o inocente Manuel, preto, nascido a seis de julho do ano próximo passado, filho natural de Caetana, liberta por sua senhora Theodora Maria da Conceição, a quem a dita Caetana tem de indenizar na outra metade do seu valor. Padrinhos Elisa de Souza e Maria Rosa.

Escravos eram libertados por seus proprietários em testamento – não raramente  com a condição de cuidarem de seus senhores na velhice – ou mediante o pagamento de uma indenização, como parece ter sido o caso da ex-escrava Caetana. Esses escravos faziam seus ganhos no comércio ou executando serviços a terceiros e guardavam dinheiro para comprar a própria liberdade ou – antes da Lei Rio Branco ou do Ventre Livre, de 12/05/1871 – a de seus filhos. Manuel, felizmente, já nasceu livre.

Se a Theodora citada no assento for de fato minha bisavó e se também ela tiver sido libertada ou filha de libertos, não deveria haver nenhum estranhamento ao fato de ela ter sido proprietária de escravos, pois isso ocorreu inúmeras vezes no Brasil. Embora não haja nada de incomum na história – se os fatos forem comprovados – ela apenas acrescenta polêmica a uma personagem já bastante complexa pelos registros a ela relacionados.


José Araújo é linguista e genealogista.