O desaparecimento de pistas sobre um membro da família é algo bastante comum durante a pesquisa genealógica. Esse desaparecimento pode ser temporário, por conta do desconhecimento de que esse membro mudou-se para outra localidade ou migrou para outro país; ou permanente, porque se perderam os registros documentais que poderiam ajudar a contar algo mais sobre sua história. A segunda explicação parece ser aplicável ao caso que passo a descrever.

Em um ramo bastante remoto de minha árvore – que agora se encontra bem documentado – existe uma pessoa sobre quem as pistas documentais são escassas. Seu nome era Duarte Nunes da Cunha. Ele era filho de Domingos Nunes Sardinha e Maria da Cunha, sobre os quais já publiquei vários textos por aqui. Duarte parece ter recebido seu nome e primeiro sobrenome em homenagem ao avô paterno – o cristão-novo Duarte Nunes – e deve ter nascido na cidade do Rio de Janeiro antes de 1595.

E isso seria quase tudo que se poderia saber, além do que consta em dois depoimentos que ele prestou no processo de canonização do padre José de Anchieta, muito amigo de seu avô, o primeiro em 22 de abril de 1622:

28-Duarte Nunes da Cunha, natural do Rio de Janeiro, com cerca de 26 anos de idade, filho de Domingos Nunes Sardinha e de Maria da Cunha. Contou sobre a cura de um netinho de Lourenço de Sampaio, filho de Antonio de Mariz e de sua filha Paula da Cunha.

E o segundo, cinco anos depois, em 11 de junho de 1627:

18-Duarte Nunes da Cunha, natural do Rio de Janeiro, com cerca de 33 anos de idade, filho de Domingos Nunes e de Maria da Cunha. Narrou um milagre ocorrido na casa de sua mãe, mediante uma relíquia.

Não foram encontrados registros de casamento, nascimento de filhos ou óbito para Duarte Nunes da Cunha, o que por si se torna bastante suspeito, pois se esperaria encontrar ao menos um deles para alguém que viveu naqueles tempos. A ausência de registro matrimonial e de filhos é especialmente interessante, pois sugere que Duarte possa ter seguido um destino incompatível com essas experiências: a vida religiosa.

O único indicativo nesse sentido parece ser o registro que se lê abaixo:

Batismo de Madalena

Aqui a transcrição:

Com licença do reverendo vigário João Manoel de Melo batizei Madalena, filha de João Velho Prego e de sua mulher Antônia Tavares. Foram padrinhos o capitão Antônio do Lago Prego e Maria da Cunha. E teve os santos óleos em […] de junho de 1650. O padre Duarte da Cunha

A criança batizada era filha de Antônia Tavares de Oliveira, irmã de Duarte Nunes da Cunha e da madrinha Maria da Cunha, que era casada com Antônio do Lago Prego. As informações de que o pároco que batizou Madalena o fez “com licença do vigário João Manoel de Melo” e se chamava Duarte da Cunha parecem sugestivas quando combinadas com a observação de não haver outros registros de batismo desse padre no livro de onde o assento acima foi extraído.

As evidências até este momento levam a crer que Duarte tenha seguido a vida religiosa. Se essa interpretação for correta, e tendo ele nascido antes de 1595, teria já 55 anos no momento do batizado de sua sobrinha. Seu destino, no entanto, segue desconhecido.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista

1 comentário

Suposições – Genealogia Prática · 22 de junho de 2023 às 08:22

[…] Duarte Nunes da Cunha, talvez ordenado padre; […]

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