No dia 10 de junho foi comemorado do Dia de Portugal ou o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, data comemorativa que celebra a morte do poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580), considerado o fundador do português moderno com sua obra Os Lusíadas. A obra de Camões narra a epopeia do povo português nas descobertas marítimas e tem seu foco na descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Essa descoberta e outras mais decorreram muito mais das necessidades de riquezas da coroa portuguesa e das necessidades específicas de seu povo ao longo dos séculos do que apenas de um espírito aventureiro atávico.

Nos séculos XVI e XVII, a coroa portuguesa buscava as riquezas resultantes da exploração das especiarias, do pau-brasil e depois da indústria do açúcar, esta última tornada o motor do crescente comércio de vidas humanas pela exploração do tráfico transatlântico de africanos. Nesse período histórico, estima-se que emigraram de Portugal cerca de 700 mil pessoas, sendo que apenas 100 mil vieram para a América. Entre esses estavam nobres titulados, mas também degredados e cristãos-novos, que buscavam no Novo Mundo uma vida livre das perseguições religiosas.

Desde meados do século XVIII a meados do século XIX o afluxo de portugueses foi enorme, impulsionado principalmente pelo ciclo da exploração do ouro, que tanto enriqueceu a coroa. No século XVIII o volume maior de imigrantes foi composto de agricultores minhotos afetados pela mecanização da agricultura e que viram na exploração dos minérios da região das Minas Gerais uma oportunidade de enriquecimento rápido. Com a fuga da casa de Bragança diante das ameaças de Napoleão, no início do século XIX, muitos nobres titulados acompanharam a família real, estabelecendo-se na nova capital – o Rio de Janeiro.

Da segunda metade do século XIX até a década de 1930 foram as necessidades do povo português que impulsionaram as ondas migratórias para o Brasil – e também para os Estados Unidos. Predominou a chegada de pessoas empobrecidas, principalmente mulheres e crianças órfãs ou abandonadas. Eram pessoas humildes que viram no Brasil oportunidade de sobreviver e criar suas famílias com dignidade. Muitos conseguiram e se fixaram definitivamente no país, como foi o caso de meu avô, natural de Viseu, que nunca mais retornou à terra de seus antepassados.

A década de 1930 foi o marco do declínio da imigração para o Brasil, que só seria retomada entre as décadas de 1960 e 1970 com o atrativo do Milagre Econômico no Brasil e as tensões nas colônias portuguesas da África e mesmo dentro de Portugal. Nas décadas seguintes, com a crescente crise na economia brasileira, iniciou-se um fluxo inverso, de brasileiros, descendentes de portugueses ou não, que emigraram para Portugal de forma precária ou oficial.

A tabela abaixo demonstra os volumes de imigração de portugueses para a América Portuguesa desde o início da ocupação do território:

Fonte: IBGE

Nas décadas recentes, tem crescido a busca pelo resgate da cidadania portuguesa por brasileiros que descobrem ter um antepassado português próximo, o que lhes dá o direito de residir legalmente na Comunidade Europeia. Essa oportunidade parece ter se tornado um bem valioso – e hereditário – para incontáveis cariocas, paulistas, catarinenses e norte-americanos, argentinos, entre outros nacionais.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista