A identificação de todos os filhos de um casal de antepassados pode ser feita de diferentes formas, sendo que a mais simples é localização deles em um testamento ou inventário de um dos membros do casal, pelo que se pode confiar que nomeados entre os herdeiros estejam os descendentes vivos no momento em que esse membro estava por falecer (testamento) ou havia já falecido (inventário). Outra forma, esta bem mais trabalhosa, envolve a busca simples dos registros de batismo ou nascimento dos filhos nos livros da freguesias ou cidades onde o casal viveu. Mas mesmo essa segunda forma pode ser inconclusiva quando os livros apresentam mau estado de conservação e se tornam ilegíveis ou mesmo estão perdidos.

A perda dos livros da freguesia de Santo Antônio de Jacutinga talvez explique por que foi difícil conhecer a descendência direta de meus antepassados João Pacheco Cordeiro e Inês Muniz de Barcelos, que viveram nessa freguesia no século XVIII. Pelas fontes disponíveis, todas elas secundárias, pude identificar seis filhos para o casal: João, Tomás, Joana, Ana, Rosa e Miguel, este último meu antepassado direto.

João e Inês tiveram uma prole nada extraordinária para a época, e eu não contava descobrir nenhum outro filho até que, olhando no livro de batismos de pessoas livres e libertas da freguesia de Jacutinga para o período de 1764 a 1796, encontrei o registro do menino Bento, que foi abandonado na porta da casa de Inês, sendo por isso identificado como exposto.

Aos vinte dias do mês de [outubro] de mil setecentos e setenta e sete anos, nesta freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, batizei e pus os santos óleos a Bento, exposto em casa de dona Inês Muniz de Barcelos no dia doze. Foram padrinhos Miguel Veloso de Carvalho e sua irmã dona Juliana. Fiz este assento era ut supra. _ Vigário Luiz Inácio de Pina

Batismo de Bento – Santo Antônio de Jacutinga,1777

Como se observa, o batizando teve por padrinho meu antepassado direto Miguel Veloso de Carvalho e por madrinha uma filha de Inês de cuja existência eu não havia encontrado menção em nenhum outro documento. Essa filha aparentemente recebeu no batismo o nome de uma irmã de sua bisavó materna – Juliana Barreto – a qual também foi a primeira esposa de seu avô paterno Gaspar Cordeiro de Peralta.

Eis, mais uma vez, uma demonstração de que compensa ler no detalhe todos os registros dos livros disponíveis para uma localidade, pois nunca se sabe o que se poderá encontrar de valioso.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista