Um aspecto interessante da pesquisa genealógica é a revelação da dispersão geográfica relacionada aos nossos antepassados, ou seja, as migrações que fizeram de um continente a outro ou dentro de um país e ainda as mudanças que realizaram entre freguesias de uma mesma capitania, província ou estado. Essa dispersão é também a razão de muita dor de cabeça no momento de localizar a freguesia de origem de um antepassado específico. Quem se deu ao trabalho de buscar a freguesia onde nasceu um avô português emigrado para o Brasil entenderá exatamente o que acabei de afirmar. Pois saiba que se pode conseguir a informação dessa dispersão geográfica por meio de assentos de batismo dos filhos de pessoas relacionadas a esses antepassados que os tenham escolhido para padrinhos e madrinhas.

O caso que trago aqui está relacionado aos filhos do casal Gaspar Monteiro Pinto e Vitoriana Maria, que não são meus antepassados diretos, mas se relacionam a alguns deles por laços de sangue. Esse casal teve ao menos sete filhos, todos batizados na freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá, que foi a primeira freguesia rural do Rio de Janeiro. Gaspar era filho de José Cabral de Távora e Felipa Correia dos Prazeres, que também não são meus antepassados, mas Felipa era irmã de Maria Pacheco dos Prazeres, que foi casada com Gaspar Cordeiro de Peralta, estes, sim, meus antepassados diretos pelo meu ramo ascendente materno que passou da Bahia para o Rio de Janeiro na virada do século XVII para o XVIII.

Gaspar Monteiro Pinto era, portanto, sobrinho de minha antepassada Maria Pacheco. E foi por causa desse parentesco que ele pode ter escolhido para padrinhos e madrinhas de vários de seus filhos os filhos de Maria e Gaspar Cordeiro de Peralta. É graças aos assentos de batismo desses filhos que tomamos conhecimento de como os Cordeiro de Peralta se dispersaram pela província do Rio de Janeiro, como sintetizo nesta lista:

  1. Manoel – batizado em 5/11/1743, teve por padrinhos “Francisco Pacheco de Peralta e Maria da Conceição, moradores nesta freguesia [do Irajá]”;
  2. Ana – batizada em 7/05/1746, teve por “padrinhos, por procuração, João Pacheco Cordeiro, morador em Santo Antônio de Jacutinga, e em seu nome tocou a criança Francisco Pacheco Peralta, morador nesta freguesia do Irajá e Dona Helena Pacheco, moradora nesta freguesia”;
  3. José – batizado em 17/01/1749, teve por “padrinhos João Velho Barreto e Dona Mariana Maria de Albuquerque, todos desta freguesia”;
  4. Joaquim – batizado em 19/01/1752, teve por “padrinhos Manoel de Oliveira Fernandes e Dona Marcela de Menezes”;
  5. Maria – batizada em 30/09/1754, teve por “padrinhos Antônio Pacheco Cordeiro e Dona Josefa Maria do Nascimento, sua filha, moradores em Jacarepaguá”;
  6. João – batizado em 20/08/1757, teve por “padrinhos … e Bárbara de Menezes, mulher de João Pacheco Cordeiro“;
  7. Francisco – batizado em 16/03/1761, teve por padrinhos “Salvador de Sampaio e Inácia de Almeida, mulher de Manoel Rodrigues, moradores nesta freguesia”.

Como se percebe, ao menos cinco dos sete filhos de Gaspar Monteiro e Vitoriana Maria tiveram por padrinhos e madrinhas membros da família (Pacheco) Cordeiro de Peralta: Francisco Pacheco de Peralta, João Pacheco Cordeiro, Helena Pacheco, Antônio Pacheco Cordeiro, Josefa Maria do Nascimento (filha do anterior que não havia ainda sido identificada), Bárbara de Menezes (casada com João Pacheco Cordeiro) e Salvador de Sampaio (casado com Maria de Peralta, sobrinha de Gaspar Cordeiro de Peralta e Maria Pacheco dos Prazeres).

Como o pároco foi detalhista, consegui localizar as freguesias onde os membros desses meus antepassados se estabeleceram, conforme a lista e mapa seguintes:

  • (1) Nossa Senhora do Loreto (Jacarepaguá): Antônio Pacheco Cordeiro, Josefa Maria do Nascimento
  • (2) Nossa Senhora da Apresentação (Irajá): Francisco Pacheco de Peralta, Helena Pacheco
  • (3) São João Batista de Trairaponga (Meriti): Salvador de Sampaio
  • (14) Santo Antônio de Jacutinga (Nova Iguaçu): João Pacheco Cordeiro, Bárbara de Menezes
Termo da cidade do Rio de Janeiro em 1838 – adapt. de Fridman (2008)

Gaspar Cordeiro de Peralta, pai dos padrinhos da prole de Gaspar Monteiro, era natural da freguesia de São João do Meriti e casou-se com Maria Pacheco dos Prazeres na freguesia do Irajá, onde nasceu seu filho Antônio Pacheco Cordeiro, que descobri ter-se mudado depois para a do Loreto, em Jacarepaguá. Já o filho João Pacheco Cordeiro foi batizado na freguesia de São João do Meriti e casou-se com Inês Muniz Veloso de Barcelos – estes meus antepassados diretos – na freguesia de Santo Antônio de Jacutinga.

Assim temos uma família que se dispersava entre as freguesias contíguas de Meriti, Irajá, Jacutinga e Jacarepaguá, ocupando um território bem vasto na província do Rio de Janeiro no século XVIII. O ramo específico que chegou até mim foi o que se estabeleceu na freguesia de Jacutinga, depois município de Nova Iguaçu.


José Araújo é genealogista