Eu sempre acreditei que a história de minha família paterna no Brasil havia começado com a chegada de meu avô Antônio Pinto de Araújo (1868 – 1946), pai de meu pai, e sua primeira família na cidade portuária de Santos, no estado de São Paulo, em abril de 1905 – meu avô Luiz Rebosa, pai de minha avó, chegou no ano seguinte. Mas as pesquisas têm mostrado algo diferente: outros parentes podem ter vindo antes, provavelmente em busca de “fazer a América” ou por razões ainda não esclarecidas.
Em texto anterior, eu já havia apresentado o “portuguez Julio Pinto Rebello”, um primo de minha trisavó, que teria chegado à capital do Império do Brasil em 1º de novembro de 1862. Essa teria sido a primeira de várias outras viagens que ele realizou segundo pude descobrir pesquisando na base de periódicos Hemeroteca Digital.
Nesse mesmo lado da família – de meu avô – encontrei, a partir de uma busca filtrada na base do CEPESE, mais dois registros de passaporte no sítio do Arquivo Distrital de Viseu, datados de janeiro de 1886, para Antônio de Araújo Mota e José Augusto, ambos filhos de meu bisavô Manuel de Araújo Mota. José Augusto (1857 – ?) teria 29 anos na época, enquanto Manuel (1863 – ?) teria 23. Os extratos desses registros podem ser vistos abaixo.
Antônio e José Augusto eram solteiros e suficientemente maduros para correr riscos. Isso talvez explique em parte a aventura que podem ter empreendido – não sou categórico nessa afirmação porque os registros de desembarque no Brasil não foram encontrados. Embora já tivesse 18 anos quando os irmãos vieram para o Brasil, meu avô não os acompanhou, possivelmente por ter de assumir outras responsabilidades, visto que seu pai falecera “de um raio” em maio de 1871, apenas três anos após seu nascimento. A provável vinda anterior de seus irmãos, no entanto, pode ter sido decisiva para sua decisão de emigrar, quase 20 anos depois, quando já era um pai de família.
Já no outro ramo de minha família paterna, entre os parentes de minha avó, a surpresa foi a descoberta de António de Almeida Rebosa (1847-?), que teve seu passaporte registrado em novembro de 1877, quando tinha 29 anos. A imagem original pode ser vista abaixo.
Aqui a transcrição:
Em 21 de novembro de 1877 se concedeu passaporte, por 90 dias, por 90 dias para ingresso ao Brasil, saindo pela Barra do Porto ou Lisboa, a Antonio d’Almeida Rebosa, solteiro, proprietário, do lugar e freguesia de São Mamede, concelho de Alijó, sendo abonado por documentos legais. | Idade: 29 anos, Altura: 1m62c, Rosto: comprido, Cabelo: Castanho, Sobr’olhos: idem, Olhos: idem, Nariz: regular, Boca: idem, Cor: natural
Antônio era filho de João Gonçalves Rebosa, tio-avô de meu bisavô Luiz Rebosa, e de Antônia de Almeida. Visto que as evidências encontradas até o momento indicam que família Rebosa chegou em levas na primeira década do século XX, pode-se dizer que a razão para João Rebosa ter vindo em época tão remota ao Brasil é ainda um mistério.
José de Araújo é linguista e genealogista.