Cypriana Antunes Coimbra nasceu em Tonda, concelho de Tondela, Viseu, Portugal, em fevereiro de 1903 e veio para o Brasil quando tinha 14 anos. Era filha de jornaleiros, isto é, agricultores que eram pagos por jornadas de trabalho. Cypriana foi provavelmente mais uma das milhares de portuguesas que desembarcaram no Rio de Janeiro no início do século XX em busca de oportunidades para melhorar de vida.
Seu pais eram Fernando Antunes Coimbra (1872-1910) e Elisa da Anunciação Silva (1878-). Ele era natural da freguesia de Molelos e ela, da freguesia de Tonda, ambas em Tondela, conforme se lê no assento de batismo de José, irmão de Cypriana, que transcrevo abaixo com meus destaques:
Aos vinte e três dias do mês de junho do ano de 1901, nesta paroquial igreja de Tonda, concelho de Tondela, diocese de Viseu, batizei solenemente um indivíduo do sexo masculino, a quem dei o nome de José, e que nasceu no lugar do Covelo desta freguesia no dia dez do dito mês, filho legítimo de Fernando Antunes Coimbra e Elisa da Anunciação Silva, jornaleiros, naturais, aquele do lugar do Botulho, freguesia de Molelos, e esta do lugar da Laje desta freguesia e moradores no lugar do Covelo, paroquianos desta freguesia, onde foram recebidos, neto paterno de Mariana Rosa, solteira. Foram padrinhos, que sei serem os próprios, José Gonçalves da Costa e sua irmã Maria da Encarnação, solteira, jornaleiros, do dito lugar do Covelo. E para constar lavrei em duplicado este assento que, lido e conferido perante os padrinhos, assino com eles. Era ut supra.
O mesmo assento contém, em sua lateral, duas averbações – a de casamento e a de óbito de José, que transcrevo abaixo:
Casou civilmente com Mathilde da Silva Coimbra em 27 de junho de 1942 no Rio de Janeiro. Assento N. 31-C de 2004, em 29 de outubro de 2004. […] Faleceu em 12 de novembro de 1986 no Rio de Janeiro, Brasil. Assento N. 27-C de 2004. Em 29 de outubro de 2004.
José e Mathilde seriam apenas mais um casal – ele português, ela brasileira – vivendo no Brasil em meados do século XX não fosse o facto de seus filhos terem se interessado desde cedo pelo esporte nacional – o futebol -, o qual já era uma paixão de José, que chegou a atuar como goleiro amador. Um desses filhos, em especial, se tornaria uma celebridade em função de sua atuação nesse esporte: Arthur Antunes Coimbra (1953), menino franzino familiarmente chamado de Arthurzinho ou ainda Arthurzico, carinhosamente reduzido para Zico por uma prima. E foi desta forma que ele ficou mundialmente conhecido.
De um início em um pequeno time de futebol de salão do bairro carioca de Quintino Bocaiúva, na zona norte, Zico se transferiu para o Flamengo aos 14 anos, onde foi levado para a escolinha de futebol do clube. Seu corpo franzino foi modelado à base de esteroides e preparação física, mas demorou algum tempo até que se tornasse reconhecido pelos dribles e cobranças de faltas que marcariam sua carreira.
De uma atuação brilhante no Flamengo a partir dos últimos anos da década de 1970, Zico partiu para uma carreira internacional na Itália, em duas temporadas, e, depois de um retorno ao Flamengo, também no Japão. Em 1994, pendurou as chuteiras, mas se manteve atuante como treinador em times de vários países, dirigente esportivo e comentarista. Pode-se dizer que sua vida está intimamente ligada ao futebol.
Mas, você deve estar perguntando, qual seria a relação entre Cypriana, sobre quem comecei a falar neste texto, Zico, também conhecido como galinho de Quintino, e minha família, sobre a qual tratam quase todos os textos deste blogue?
Eu explico: Cypriana Antunes Coimbra, irmã de José Antunes Coimbra, pai de Zico, conheceu o português Antônio Fernandes Rolim, com quem se casaria por volta de 1924 na cidade de Nova Iguaçu, também no Rio de Janeiro. Desse casamento nasceu, em 8 de março de 1924, a menina Maria, que alguns anos mais tarde se casaria com meu tio materno Djalma Pereira Belém. A fotografia abaixo é um recorte do registo do casamento de meus tios Djalma e Maria Rolim, no qual se vê também minha avó materna Durvalina.
Maria e Zico, portanto, são primos. E foi assim que, para meu orgulho, mesmo que indiretamente, o galinho de Quintino entrou em minha árvore familiar.
José Araújo é linguista e genealogista.