Quem se dá o trabalho de construir uma árvore genealógica logo chega à conclusão que seus antepassados foram extremamente férteis. É comum encontrar um bisavô ou trisavô que teve oito ou mais filhos – os tios-bisavós, tios-trisavós e assim por diante. O pesquisador afoito – aquele que deseja subir rapidamente nos ramos ascendentes – talvez não queira ter o trabalho exaustivo de buscar documentos, especialmente de batismo, relativos aos tais tios-bisavós e similares por não serem seus ascendentes diretos.
Mas essa busca pode ser relevante, pois não é incomum que assentos desses parentes tragam informações úteis sobre parentes do ramo direto (ascendentes) e mesmo sobre outros parentes e amigos da família que talvez tenham algum interesse para a história familiar.
Para sorte do pesquisador afoito, nem sempre é necessário ir à busca dos assentos de batismo desses tios-(bis)avós, pois é possível simplesmente saber que existiram a partir de informações encontradas em outros assentos – de óbito, por exemplo – de parentes da linha direta. Um caso que exemplifica essa possibilidade foi a descoberta de um filho de Pedro Gonçalves Machado (? – 1733), meu antepassado direto de nove gerações, natural de São Brás do Castanheiro, Bragança, Portugal. O assento de óbito de Maria Francisca, sua mulher informa que:
Maria Francisca, viúva de Pedro Machado, do lugar do Castanheiro, faleceu aos vinte e três dias do mês de janeiro de mil e setecentos e quarenta e oito. Recebeu os sacramentos e fez testamento. Está sepultada na igreja de São Brás do Castanheiro. Deixou por testamenteiro seu filho Francisco José, e eu, padre Manoel Teixeira da Silva, vigário desta igreja, fiz este assento que assinei dia, mês e era ut supra.
A nomeação como testamenteiro de um filho até então desconhecido por mim permitiu a descoberta de mais um antepassado indireto. Tenho outros casos similares em minha árvore.
Por vezes, o filho insuspeito de um antepassado direto pode ser descoberto durante a busca pelo óbito de outro parente do mesmo ramo. Foi o que ocorreu no caso abaixo, relativo a uma filha do mesmo Pedro Machado, que descobri enquanto lia os registros de óbito da região:
Quitéria, solteira, filha de Pedro Machado do Castanheiro, faleceu a vinte e sete de janeiro da era de mil e setecentos e trinta e nove. Recebeu os sacramentos. Não fez testamento. Foi sepultada nesta igreja de São Brás do Castanheiro. O padre José Guedes Rodrigues da dita igreja o escrevi e assinei aos vinte e oito do dito mês e era retro.
Até o momento em que escrevia este texto, pude encontrar quatro filhos de meu antepassado Pedro e de sua mulher Maria Francisca: Mariana; Luiza, de quem descendo diretamente; Francisco José e a já citada Quitéria.
José de Araújo é linguista e genealogista.