Algumas árvores de família são como pinheiros, que crescem para cima de forma bastante pronunciada, principalmente porque quem as cultiva se preocupa apenas em documentar sua ascendência direta, deixando de lado os tios e primos que possa ter e mesmo conhecer. Outras árvores são como arbustos, que se espalham sem muita esperança de crescimento vertical por falta de documentos dos ascendentes de ambos os costados ou pela pobreza de informação encontrada nos documentos disponíveis. Ainda outras árvores, enfim, se apresentam meio tortas, pois alguns ramos crescem com vigor enquanto outros parecem destinados ao fracasso. À exceção do primeiro caso, que parece resultar de uma escolha consciente, os outros dois resultam de infortúnios e costumam ocorrer em famílias que descendam de pessoas escravizadas, como é o caso da minha.
Minha árvore até hoje se apresenta meio torta, com o costado paterno bem vigoroso, pois consegui elaborar a ascendência de ambos os meus avós de forma consistente até os anos 1600 em Portugal. Pelo lado materno, só consegui avançar bem, e com muita pesquisa, na ascendência de meu avô Enéas, conforme já expliquei em outro texto. Apesar desse desequilíbrio, minha opção sempre foi a de documentar todos os tios, tios-avós, tios-bisavós e suas descendências até o mais próximo possível do presente, pois acredito na importância de conhecer a família de forma ampla e no potencial de descoberta que pode haver em registros de parentes distantes.
Graças à minha opção de pesquisa, em 2020 tive a surpresa de ser encontrado por uma pessoa – que vou identificar como MH – de quem talvez jamais tomasse conhecimento se eu não tivesse registrado em minha árvore os dados de uma prima de segundo grau chamada Nely (1940-1979), filha de meu tio-avô Adriano Pereira Belém (1892-1950). MH relatou que durante toda sua infância conheceu Nely como uma tia de consideração sempre muito próxima e que lhe dava presentes. Só que, quando estava internada em um hospital no Rio de Janeiro, Nely pediu que MH fosse trazida para vê-la, como se fosse uma despedida. Isso alimentou em MH a crença de que Nely seria de facto sua mãe biológica.
Em busca da resposta, MH e sua filha fizeram testes genéticos e registraram suas informações no mesmo sítio onde mantenho minha árvore familiar. Foi inicialmente pelo registro dos dados de Nely que MH chegou a mim. A identificação de parentesco pelo teste genético só ocorreu quando subi os resultados dos testes de quatro de meus primos maternos para o mesmo sítio. MH e sua filha, curiosamente, surgiram como coincidências (matches genéticos) apenas de minha prima Simone. Isso por si já seria sugestivo de um parentesco, mas o relato de MH parece ratificar a sua suspeita a respeito da real identidade de Nely.
A sugestão que deixo, portanto, é sempre tentar documentar o máximo dos ramos laterais da árvore, com dados de tios e primos de todos os graus. É trabalhoso, mas as descobertas poderão recompensar o trabalho.
José Araújo é genealogista.
1 comentário
Desafio – Genealogia Prática · 12 de maio de 2023 às 06:36
[…] depois outros contatos similares, sendo que um deles não estava relacionado à venda de crianças e sim a uma adoção. Após conversa com a pessoa interessada, descobri que se tratava de uma prima materna que havia […]
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