Há alguns anos, recebi um pedido de contato a partir de um dos inúmeros grupos de Genealogia no Facebook de que participo. A pessoa interessada era uma jovem que se comunicava em inglês e relatava ter nascido no Brasil e sido adotada por um casal israelense em um caso envolvendo a venda de crianças brasileiras para casais estrangeiros na década de 1980. Agora adulta e consciente da forma como se tornou uma cidadã involuntária de outro país, ela desejava descobrir a identidade de seus pais biológicos. Infelizmente não tinha ainda experiência para ajudá-la, mas o relato me impressionou bastante. Descobri que havia inúmeras pessoas nessa condição e que elas se reuniam em comunidades do Facebook onde tentavam obter mais informações para tentar chegar à descoberta da identidade de suas famílias biológicas no Brasil.

Recebi depois outros contatos similares, sendo que um deles não estava relacionado à venda de crianças e sim a uma adoção. Após conversa com a pessoa interessada, descobri que se tratava de uma prima materna que havia sido adotada por outra família, mas suspeitava que sua mãe biológica – prima de minha mãe – havia mantido contato com ela ao longo dos anos sob pretexto de ser amiga da família adotiva. Felizmente conseguimos esclarecer a identidade da mãe biológica com base no tal relato de contato prolongado e no resultado de testes de ancestralidade genética.

Esses casos me fizeram refletir sobre o papel do genealogista contemporâneo e sobre o que esse profissional precisaria saber para auxiliar pessoas que buscam suas famílias biológicas. Já ouvi relatos de alguns colegas que têm ajudado pessoas que lhes chegam com uma demanda similar e, por ter passado por essa experiência, acredito que eles devam concordar que se trata de uma atividade que demanda tempo, paciência e compaixão.

Acredito também que esses colegas concordem que o auxílio nessa busca seja uma atividade que genealogistas possam realizar caso possuam – ou se disponham a construir – algumas competências básicas, a saber:

  1. capacidade e experiência para interpretação de testes de ancestralidade genética, ferramentas imprescindíveis atualmente na descoberta de parentes com quem se podem obter pistas;
  2. capacidade e experiência para mineração de informações em redes sociais, onde muitas vezes se encontram pistas de parentescos com os tais parentes descobertos via testes genéticos;
  3. capacidade para interpretação – p.ex. da verossimilhança – de relatos de família eventualmente disponíveis para as pessoas que se encontram na busca e, principalmente;
  4. sensibilidade para estar alerta aos estados psicológicos desencadeados na pessoa que empreende a busca por seus genitores.

Como este texto precisava ser curto o suficiente para não desestimular a leitura, deixo disponível uma apostila que elaborei com a descrição de ferramentas e estratégias que podem ser empregadas tanto por quem deseje iniciar a busca por sua família biológica quanto por quem pretenda auxiliar nessa busca.

Leia a apostila abaixo ou baixe o arquivo em formato PDF.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista