Este texto dá continuidade ao anterior, no qual apresentei algumas evidências de que um de meus ramos maternos ainda sem resolução pode descender do casal Antônio da Silva Amaral e Leocádia Clara de Souza ou de alguém diretamente relacionado a eles pelo sangue. O casal parece ter vivido entre as freguesias de Nossa Senhora do Desterro (hoje o bairro carioca de Campo Grande) e de Santo Antônio de Jacutinga (hoje município fluminense de Nova Iguaçu) e teve nove filhos de que se tem conhecimento: Augusto da Silva Amaral, Bento da Silva Amaral, Gregório da Silva Amaral, Inácio da Silva Amaral, Joaquina Clara da Silva Amaral, José da Silva Amaral, Luiz da Silva Amaral, Luiza Clara da Silva Amaral e Maria da Silva Amaral. Aqui dedicarei a análise ao patriarca Antônio, que teria falecido com mais de 60 anos no dia 11 de agosto de 1874 na freguesia de Jacutinga, como vemos no assento abaixo e lemos na transcrição seguinte.

Óbito do tenente Antônio da Silva Amaral

Aos onze dias do mês de agosto de mil oitocentos e setenta e quatro, [em uma carneira] no cemitério desta matriz de Santo Antônio de Jacutinga sepultou-se o cadáver do tenente Antônio da Silva Amaral, [bran]co, casado, fluminense, com sessenta e seis anos – pericardite – foi solenemente encomendado, vindo seu corpo […] E para constar fiz este assento.

Seis anos após o óbito de Antônio, um cidadão que acredito ter sido seu filho Luiz da Silva Amaral fez publicar a seguinte nota na edição de 10 de agosto de 1880 da Gazeta de Notícias, a qual assinou com suas iniciais – L.S.A. A nota fornece uma data de nascimento para o tenente Antônio – 1811 – , embora o assento de óbito apresentado antes sugira que ele tenha nascido em 1808. Por essa nota, deduzimos que Leocádia Clara de Souza, a mulher do tenente Antônio, ainda estava viva, mas ela será o foco do texto seguinte.

Nota na Gazeta de Notícias

A ascendência do tenente Antônio era uma incógnita até que encontrei o seguinte extrato do processo de casamento de seu filho Luiz, que creio ser o mesmo que fez publicar e assinou a nota exibida acima. É no texto desse extrato que lemos que os noivos Luiz da Silva Amaral e Maria Teodora de Andrade Rosa estavam prometidos para casar e pediam dispensa por apresentarem impedimento de consanguinidade em “3º grau atingente ao 2º de linha lateral”. Segundo essa descrição, um dos cônjuges era bisneto dos avós do outro cônjuge. A revelação de que eram parentes ajudará a descobrir quem eram os ascendentes do tenente Antônio ou os de sua mulher Leocádia. Para saber como se daria a relação de parentesco foi necessário construir a árvore familiar da noiva Maria Teodora. Pudemos identificar seus pais a partir do assento de batismo de Jesuíno, um dos filhos dela e de Luiz da Silva Amaral e cujo assento de batismo está transcrito a seguir.

Aos sete dias do mês de dezembro de mil oitocentos e setenta e três, nesta paroquial igreja de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá, batizei solenemente a Jesuíno, nascido a trinta de setembro deste dito ano, filho legítimo de Luiz da Silva Amaral e Maria Teodora de Andrade Amaral, ele natural de Campo Grande, ela de Jacutinga, neto paterno de Antônio da Silva Amaral e de Leocádia Clara de Souza Amaral; e materno de Antônio Maria de Andrade Rosa e de Teodora Luiza de São José, sendo padrinhos o brasileiro Gregório da Silva Amaral, [tio paterno] e sua mãe, a avó paterna Leocádia Clara de Souza Amaral.

Mediante busca de assentos paroquiais, descobri que a noiva Maria Teodora, depois mãe do menino Jesuíno, era neta paterna do alferes Antônio dos Santos Rosa e de sua mulher Águeda da Silva. Com mais pesquisa, descobri que esta última era filha do capitão Luiz da Silva Amaral e de Teresa Maria de Jesus. Pela lógica dos graus canônicos de consanguinidade, encontraríamos neste último casal, segundo sugerem os sobrenomes idênticos, os pais do tenente Antônio da Silva Amaral e os avós do noivo Luiz da Silva Amaral – que era homônimo de seu avô paterno. As ascendências dos noivos que receberam a citada dispensa de consanguinidade estão representadas no gráfico abaixo.

Consanguinidade no 3º grau atingente ao 2º

É relevante destacar que, segundo um antigo costume de dar aos filhos os nomes de seus avós paternos e maternos, o noivo Luiz da Silva Amaral tinha o mesmo nome do pai do tenente Antônio e que este último tinha o mesmo nome de seu avô paterno Antônio da Silva Amaral (1719-1790), que foi casado com Joana Gomes da Silva (1737-1790). Essa análise, portanto, parece esclarecer a ascendência do tenente Antônio, meu provável antepassado – ou a de um irmão dele. O texto seguinte será dedicado à ascendência de Leocádia Clara de Souza, esposa do tenente, falecida depois de 1880. O caso dela, como se verá, foi bem mais complexo.

Uma curiosidade na ascendência do tenente Antônio da Silva Amaral é a origem açoriana que remonta ao nobre italiano Bartolomeu Petrestrelo (1395-1457), de cujo segundo casamento com Izabel Moniz nasceu Felipa Moniz (1455-1485), mulher do navegador Cristóvão Colombo (1451-1506).


José Araújo é genealogista.