Dentro da religião católica, o primeiro sacramento recebido pela pessoa é o batismo e, até o século XIX, era comum que a pessoa batizada recebesse apenas um prenome que era registrado em livro paroquial junto com os nomes de seus pais, avós e padrinhos. A escolha do sobrenome com o qual a pessoa seria conhecida na vida adulta ocorria no recebimento do segundo sacramento, o do crisma, já na adolescência, por volta dos 14-15 anos. No caso das mulheres a situação poderia ser um pouco diferente, pois era usual que escolhessem nomes confessionais como Maria da Conceição ou Joana de Jesus.

Porém, para além da escolha do sobrenome, o crisma também poderia significar um momento em que o jovem escolhia um novo nome para si, diferente daquele que havia recebido de seus pais no momento do batismo. Em minha pesquisa não encontrei muitos casos assim, mas o que trago aqui, e que não tem haver com minha família, se revelou interessante. Ele pode ser visto no assento exibido e transcrito abaixo.

Batismo de Jesus – Mangaratiba, 1795

Aos doze dias de julho de mil setecentos e noventa e cinco, nesta paroquial Igreja de Nossa Senhora da Guia da aldeia de Mangaratiba, batizei e pus os santos óleos ao inocente Jesus, filho legítimo do capitão José Bento Suzano e dona Maria Rosa da Assunção, neto pela paterna do doutor Manoel Antunes Suzano e dona Antônia de Souza Matos, e pela materna de Antônio de Moraes e Silva e dona Rosa Maria de Carvalho. Nascido aos vinte e dois de junho do ano presente. Foram padrinhos o capitão João de Siqueira da Costa, por procuração que apresentou o capitão Antônio José Corrêa de Carvalho, e Nossa Senhora da Conceição. Para constar fiz este assento que assinei e mandei certidão deste assento para a freguesia da Ilha Grande para se lançar no livro ao qual pertence por ser freguesia da dita Ilha Grande. O vigário Salvador Francisco da Nóbrega.

Na imagem se percebe uma averbação posterior na qual outro vigário declara que “no crisma, mudou o nome para João”, registrando que o menino batizado como Jesus escolheu um novo prenome, que ele usaria para o resto de sua vida. Um caso assim é realmente precioso.

E talvez essa possa ser a explicação para eu não ter encontrado o assento de batismo de meu antepassado direto José Pereira da Silva, natural de Oeiras, Lisboa, nos livros dessa freguesia onde seus pais Francisco Pereira e Damiana Teresa se casaram em março de 1806. Pude encontrar dois registros de batismo de apenas dois filhos do casal – Francisco, batizado em julho do mesmo ano, e Genoveva, batizada em outubro do ano seguinte. Minha suspeita é de que esse menino batizado como Francisco tenha, no seu crisma, mudado seu prenome para José e escolhido o sobrenome Pereira da Silva, com os quais ele passou a ser conhecido quando viveu no Brasil.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista