Meu sonho é que ao menos um dia metade da população brasileira consiga fazer um teste de Genealogia genética. Isso já permitiria um avanço nas investigações de história familiar e talvez ajudasse até a reduzir o racismo estrutural da sociedade pela descoberta de que a miscigenação está presente mesmo naquelas famílias que se consideram secularmente brancas. Sonhos à parte, penso que seria interessante que ao menos todos os meus primos se interessassem pelo tema. Alguns de fato se interessaram e fizeram um teste a meu pedido e com meu incentivo, enquanto outros o fizeram de forma espontânea. Infelizmente, meus pais, avós, tios e tias faleceram antes que os testes se tornassem disponíveis ou acessíveis. O DNA deles, pela maior proximidade com nossos antepassados, permitiria mais descobertas, mas nem tudo está perdido para quem já conheceu a Lazarus.

Sim, a Lazarus, uma ferramenta disponível para assinantes na plataforma GEDmatch, e não o personagem bíblico homônimo e irmão de Marta e Maria Betânia que foi ressuscitado por Jesus quatro dias depois de falecido. Inspirada no relato bíblico, a ferramenta chamada Lazarus se propõe a trazer de volta à existência ao menos parte do DNA de uma pessoa que já faleceu a partir do DNA de seus descendentes e das correspondências (matches) de DNA desses descendentes. A Lazarus, na verdade, produz um kit de DNA virtual a partir de kits alheios, nem sempre de modo tão completo que se pudesse confundir com o de uma pessoa real, como explica o genealogista Andy Lee no tutorial abaixo.

Fiz uma experiência com essa ferramenta para recriar um kit virtual de minha mãe – que vou chamar de L – a partir (a) de meu kit (Grupo 1, que na ferramenta corresponde ao bloco dos descendentes diretos de L); (b) dos kits de meus primos Wilsom e Regina, filhos de irmãos de minha mãe; dos kits de Suely, Simone e Thais, filhas de primas de minha mãe; e de kits de matches meus e de minhas primas cujo parentesco com antepassados de minha mãe já fossem conhecidos (Grupo 2 na ferramenta, para ascendência comum com L, não importando o grau). Para exclusão de segmentos que estivessem em meu DNA por herança de meu pai, inseri o kit de uma sobrinha dele (Grupo 0 na ferramenta, para o cônjuge de L ou seus parentes diretos). Quanto mais kits houver nos grupos 1 e 2, maior será a quantidade de DNA recuperada para geração do kit Lazarus.

Ressurreição de Lázaro – Van Gogh – 1889-1890

O kit resultante para L foi considerado pela DNA Kit Diagnostic Utility da mesma plataforma como BOM e poderá ser empregado para realização de outros testes, estando já disponível para a busca de matches e para a investigação de composição étnica (Admixture) em diferentes projetos, de que traterei em outro texto.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista