É crença comum que vivemos mais hoje porque temos à nossa disposição as maravilhas da ciência moderna. De fato, nossa vida hoje é mais confortável e estamos ainda menos sujeitos a doenças que nos séculos passados dizimavam populações. Mas nossa maior longevidade pode ser relativizada quando fazemos pesquisas por registros de nossos antepassados.
Quem faz pesquisa genealógica costuma folhear milhares de páginas de antigos livros paroquiais. Nesse processo, é comum encontrar um incontável número de registros de natimortos e de óbitos de recém-nascidos, menores de dez anos, adolescentes e até de adultos jovens. Mas quem tem essa experiência também se depara com muitos casos de pessoas de surpreendente longevidade.
Em minha árvore familiar, por exemplo, que abarca um ramo português até o século XVIII e um brasileiro que ainda não foi além do século XIX, a esperança média de vida era de 50 anos para os homens e 51 anos para as mulheres. Ainda dentro desses dados, 22% dos homens e 21% das mulheres com datas de nascimento e óbito conhecidas viveram além dos 80 anos. Levando em conta a crença de que falei inicialmente, esses dados são, mais do que surpreendentes, são reveladores de que nem só de vacinas e remédios modernos se faz a longevidade.
Apenas para citar um exemplo fora da curva, havia em minha família uma história a respeito da antepassada que havia sido escrava e havia morrido com mais de 100 anos. Sempre contei essa história com um pouco de descrença, pois não havia evidências para comprová-la. Mas creio ter conseguido encontrar essa evidência e, talvez, constatado a veracidade de mais esse relato familiar.
Aqui a transcrição do óbito de Theodora com meu destaque:
Aos 30 dias do mês de janeiro do ano de 1947, em meu cartório compareceu Manoel dos Santos, brasileiro, comerciante, casado, residente nesta cidade exibindo atestado firmado pelo doutor Humberto Gentil Baroni e declarou que na Estação de Austin, no dia 29 do corrente mês e ano, às quatro horas, faleceu de “embolia pulmonar” Theodora Maria da Conceição, do sexo feminino, de cor parda, com 118 anos de idade, viúva, filha, digo, natural deste Estado, filha de pessoas ignoradas. Vai ser sepultada no cemitério de Nova Iguaçu. Deixa bens e filhos. Para constar firmei este termo que, depois de lido e [], vai devidamente assinado…
Esssa Theodora pode ter sido minha bisavó, avó de minha mãe. Considerando sua cor – parda – e a suposta época do nascimento – 1828 -, ela pode muito bem ter sido escrava ou ao menos filha de escravos na região. Mas essa é uma história que ainda pretendo contar.
José Araújo é linguista e genealogista.
1 comentário
Genealogia Prática - Theodora · 24 de julho de 2018 às 08:45
[…] descoberta da data de óbito de minha bisavó Theodora Maria da Conceição, de quem já falei em outro texto. Segundo história que ouvi de minha mãe, Theodora havia falecido com 118 anos. Sempre acreditei […]
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