Em textos anteriores, tratei da complexa onomástica portuguesa, isto é, dos costumes de atribuição de nomes e apelidos (sobrenomes) praticados em Portugal em séculos passados.
Uma dessas práticas, bastante óbvia para quem pesquisa os assentos paroquiais, era a de não atribuir apelidos aos batizados. Dessa forma, os párocos indicavam apenas o nome (p.ex. José) ou nomes (p.ex. José António) dados pelos pais a seus filhos.
Embora o costume possa parecer inócuo para os pesquisadores contemporâneos, bastava que houvesse homônimos de idade aproximada em uma localidade para causar hoje problemas na correta identificação de um ramo familiar.
O caso que apresento aqui, no entanto, é uma curiosidade e talvez uma raridade para o século em questão: trata-se de um assento de batismo no qual o pároco registrou o apelido ou sobrenome do batizado. A criança em questão viria a ser o tio-avô de meu bisavô.
A transcrição do assento pode ser vista abaixo, com meu destaque.
Aos sete dias do mês de novembro de 1717, eu, o padre Raphael Gomes Fonseca, ecônomo nesta igreja, batizei e pus os santos óleos a Manoel dos Santos, filho de Antônio Gil e de sua mulher Maria João, natural do lugar de Adorigo. […] Padrinhos Manoel Osório de Vasconcelos e dona Clara. Fiz e assinei com o reverendo abade…
Trata-se de um caso único, até o momento, entre os mais de 1000 assentos paroquiais portugueses e brasileiros que já pesquisei.
José Araújo é linguista e genealogista.