Quando uma tia materna muito querida faleceu, herdei dela uma caixa com quase uma centena de fotografias de famíla retratando casamentos, primeiras comunhões ou apenas registros para a posteridade. Grande parte dessas fotografias era de tios e primos que tive a felicidade de conhecer. Mas havia poucas que eu supunha serem de parentes, embora não tivesse a menor ideia de quem pudessem ser.
Uma dessas fotos é a de um jovem identificado na dedicatória como Nilo Rabello. O registro, que se vê abaixo, apresenta uma data, que poderia ser uma pista relevante. Como meus tios já faleceram e os primos com quem tenho contato não se lembram de ter ouvido o nome, a única outra pista útil é o sobrenome Rabello, que era o mesmo de minha avó materna. Nilo Rabello, portanto, deveria ser parente de minha avó e, a julgar pela data do registro, deve ter nascido na primeira década do século XX.
Na ausência de parentes – idosos ou não – portadores da memória da família e na carência de mais pistas que pudesse extrair da imagem, recorri a algumas ferramentas: o FamilySearch, o Google e o Facebook, graças às quais pude confirmar a identidade do fotografado e até encontrar um de seus descendentes. Vamos ao histórico de pesquisa, às estratégias de uso dessas ferramentas e às descobertas que fiz.
No FamilySearch, iniciei a investigação na seção Pesquisar registros históricos digitando o nome Nilo e o sobrenome Rabello e, em seguida, digitando Brasil no campo País e Rio de Janeiro no campo Estado ou província. Após clicar no botão Pesquisa, foram exibidos os resultados vistos na imagem abaixo.
Um deles, uma certidão de casamento de 24/12/1943, pareceu imediatamente relevante, pois indicava que Arthur Rabello Guimarães e Argemira Pereira da Silva seriam os pais de um dos cônjuges – um tal Nilo Rabello. Esses eram os nomes de meus bisavós maternos, portanto o tal Nilo Rabello da fotografia deve ter sido meu tio-avô até então desconhecido.
Ainda no FamilySearch busquei informações sobre a esposa de Nilo e descobri sua certidão de óbito, datada de 30 de janeiro de 1983. No texto da certidão, um nome pareceu promissor: o da pessoa que foi ao cartório informar do óbito. O sobrenome dessa pessoa era Rabello Guimarães, portanto ele deveria ser parente de Nilo, talvez um irmão, talvez mesmo seu filho ou um neto. Nada mais foi encontrado por meio do FamilySearch, portanto era hora de recorrer a outra ferramenta, desta vez uma bem menos específica: o Google.
Digitando – entre aspas duplas – o nome completo do informante do óbito no Google, encontrei apenas um documento em formato PDF em que se nomeava um possível filho desse informante. O documento havia sido produzido pela filial de uma sociedade iniciática localizada na região onde minha família vivia, o que sugeria uma possibilidade de êxito na identificação de um dos netos de Nilo Rabello. De posse do nome desse suposto neto, e ainda por meio do Google, descobri que essa pessoa tinha um perfil no Facebook.
Felizmente, o perfil do Facebook era aberto, o que permitiu uma descoberta importante: ele e eu tínhamos um amigo em comum: outro Rabello Guimarães, este um comprovado primo meu de segundo grau. Após fazer contato pelo Messenger com o dono do perfil, confirmei tudo o que havia hipotetizado antes, ou seja, a pessoa encontrada era mesmo filho do informante do óbito da esposa de Nilo, portanto um neto de Nilo e meu primo de segundo grau.
Não informei aqui os nomes das pessoas vivas para preservar suas identidades. A título de curiosidade, com base na data de nascimento informada na certidão de casamento de Nilo, constatei que a fotografia apresentada no início deste texto foi feita quando meu tio-avô tinha apenas 19 anos de idade.
José Araújo é linguista e genealogista.