Magrebe

Descendemos de humanos que deixaram o continente africano há cerca de 100 mil anos e se espalharam pelos continentes, portanto todos nós temos uma origem africana remota. Muitos de nós, no entanto, temos uma origem africana mais recente, que pode ser atestada pelo nosso fenótipo ou pela nossa árvore genealógica contemplando ao menos os últimos 200 anos. Outra forma de atestar essa ascendência africana recente é por meio de um teste de DNA autossômico desses que são vendidos por empresas como 23&Me, Ancestry, Genera, MundoDNA e MyHeritage. Quem já fez um teste desses pode ter encontrado nos resultados informações de ancestralidade global que o/a ligam a regiões como África Central, África do Norte ou Magrebe, África Ocidental ou África Oriental. A simples revelação de estar relacionado a uma dessas regiões não deve, no entanto, levar à conclusão de que existe na árvore familiar um antepassado africano escravizado, e é importante entender o porquê.

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Insuspeito

Os processos de Leitura de Bacharéis a cargos de magistratura são documentos valiosíssimos para a Genealogia de famílias com ascendência portuguesa. Nessas fontes encontramos informações coletadas pelo Desembargo do Paço durante as inquirições sigilosas feitas com intuito de conhecer as origens familiares dos candidatos e de atestar seus bons costumes e comportamento. Consoante os regimentos da época, buscavam-se testemunhas capazes de assegurar que o candidato não era descendente de cristão-novo, mouro ou africano; não tinha histórico de vida desabonador; e não exercera algum ofício mecânico ou manual. Receber testemunho de algum desses elementos deveria eliminar o candidato antes que pudesse prestar as provas exigidas para o cargo desejado. Assim deveria ser, mas nem sempre foi.

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Fidedignidade

As obras de grandes genealogistas do passado como a de Frei Jaboatão, a de Pedro Taques, a de Rheingantz e a de Silva Leme são fundamentais para a construção das árvores genealógicas de boa parte dos brasileiros contemporâneos, mesmo para aqueles que se propõem a criá-las no FamilySearch, plataforma colaborativa onde um ramo criado pode se unir a outros já disponíveis e criados por terceiros a partir de referências obtidas nas tais obras. Para o bem da precisão, é preciso reconhecer que as grandes obras genealógicas não estão absolutamente corretas e podem conter erros de interpretação dos documentos originais. Outro aspecto que merece atenção é o fato de que elas nem sempre informam as datas e locais de nascimento, casamento e óbito dos membros das famílias nelas contidas. Este último é um aspecto que desperta meu interesse, pois dispor dessas informações é essencial para a construção de um relato histórico e familiar fidedigno. Um caso a que há algum tempo tenho me dedicado é o do cristão-novo Afonso Mendes, cirurgião-mor da corte portuguesa que veio para Salvador em 1557 na frota que trouxe Mem de Sá, o terceiro governador-geral do Brasil. Pouco se sabe sobre a vida dele antes da vinda para o Brasil e sobre a de seus familiares em Portugal e no Brasil, pois nenhuma obra genealógica do passado se dedicou inteiramente a eles. Por essas razões eu me predispus a reunir as pistas esparsas disponíveis para tentar construir um relato coerente.

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