No texto anterior, eu prometi contar como saí da “situação grave” de não ter os documentos de meus avós falecidos nem a possibilidade de obter informações de meus parentes ainda vivos – filhos de meus avós. Pois aqui vou cumprir a promessa feita.

Sempre soube, por informação de meu pai, nascido no Brasil, que meus avós paternos eram portugueses de Trás-os-Montes, como, aliás, boa parte dos portugueses que imigraram para o Brasil no século passado e no anterior. Só que saber isso, descobri muito mais tarde, não ajudaria em nada um genealogista amador como eu.

Trás-os-Montes, informa a Wikipédia, é uma “província de Portugal com limites e atribuições que foram variando ao longo da história, mas que de grosso modo correspondem aos atuais distritos de Vila Real e Bragança”. Isso significa que há, nessa vasta região, centenas de lugares de onde um emigrante poderia ter saído.

Província de Trás-os-Montes e Alto Douro – Fonte: Wikipédia

Como saber? Perguntar a minhas tias vivas não ajudou. Uma delas chegou a dizer que “seus pais não falavam disso com os filhos”. Mas ela contou algumas histórias que depois se revelaram verdadeiras, mas isso é assunto para outra postagem.

Minha certidão de nascimento informava apenas que meus avós eram Fulano de Araújo e Sicrana Pinto, mas não informava a origem deles. E, para piorar a situação, a certidão de meu pai não existia mais.

A descoberta da região de origem de meus avós – na verdade a de meu avô inicialmente – ocorreu por acaso: estava em um velório da família quando encontrei um primo, neto pelo primeiro casamento de meu avô. Ele me contou que tinha uma carta de um tio nosso em que estava declarada a origem de nosso avô. Ele me enviou uma foto dessa carta e lá estava: nosso avô era de Viseu.

Não era exatamente Trás-os-Montes pela definição da Wikipédia, mas já era um começo. Pesquisando aleatoriamente com o Google, tive a sorte – de iniciante, claro – de encontrar (neste site) o registro de desembarque de meu avô com sua primeira família em 1905, no qual se informava sua idade na época.

Em seguida, tive a sorte de encontrar (neste site) o registro de passaporte dele, onde se informava sua origem em Viseu: Barcos, uma antiga freguesia do concelho de Tabuaço.

Munido dessa informação, comecei a pesquisar e cheguei ao site do Arquivo Distrital de Viseu, no qual encontrei um e-mail de contato, pelo qual solicitei a localização da certidão de nascimento – na verdade um assento de batismo. Mediante transferência bancária internacional, consegui que localizassem e me enviassem uma cópia digitalizada do assento.

Com ele, tive acesso a mais informações que me permitiram começar a reconstruir a história da família, que, de outra forma, logo estaria perdida pela ausência de documentos e o falecimento dos últimos filhos de meu avô que talvez ainda se lembrassem de alguma coisa.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista

3 comentários

Histórias – Genealogia Prática · 18 de fevereiro de 2017 às 10:32

[…] da história da família e fez questão de deixar um breve relato em forma de carta – leia aqui. Graças a essa carta, pude buscar as informações que me permitiram começar a reconstruir essa […]

Genealogia Prática - Histórias · 10 de dezembro de 2017 às 07:15

[…] da história da família e fez questão de deixar um breve relato em forma de carta – leia aqui. Graças a essa carta, pude buscar as informações que me permitiram começar a reconstruir essa […]

Genealogia Prática - Póstuma · 21 de fevereiro de 2019 às 20:21

[…] quem tive sete filhos antes de virmos para o Brasil. Partimos de Leixões no vapor Heidelberg e chegamos a Santos, onde desembarcamos em 14 de abril de 1905. Eu tinha 36 anos, Eliza tinha 31 e nossa filha mais […]

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