A humanidade era menor ainda em um terceiro aspecto: os europeus no geral, eram nitidamente mais baixos e mais leves do que hoje. […] Isso não significava que os homens do fim do século XVIII fossem mais frágeis do que somos. […] – Eric Hobsbawm – A era das revoluções: 1789-1848 – Paz e Terra – Edição: 1 (9 de julho de 2015)

Um fato observável em boa parte do mundo ocidental é a maior estatura dos jovens em relação às de seus pais e avós. Essa transformação foi consequência da melhoria de várias condições de higiene, como a qualidade e fartura dos alimentos, o tratamento da água e a redução ou total prevenção de sequelas de doenças infantis graças às campanhas de vacinação na infância. Certo que ainda há grande desigualdade entre os países, mas, de modo geral, os jovens atuais tendem a ser mais altos.

E os portugueses estão entre os povos com maior média de pessoas altas, segundo os cientistas do Imperial College de Londres. Embora ainda estejam entre os homens de estatura média mais baixa na Europa, os portugueses foram os que apresentaram maior crescimento nos cem anos – de 1914 a 2014 – que foram considerados no estudo realizado por esses cientistas.

Embora eu não disponha de registros fotográficos que me permitam afirmar que minha estatura – 1,67m – seja devida à minha herança familiar, era fácil observar que os meios-irmãos de meu pai que eu conheci tinham altura mais baixa e que os irmãos diretos dele tinham aproximadamente a mesma altura dele e minha. Mas qual seria a altura de nossos antepassados?

Sem fotografias de grupo poderia ser impossível saber, mas, como eu já afirmei antes aqui no blog, existe um tipo de fonte documental que permite obter ao menos alguma informação sobre o aspecto físico de nossos antepassados do sexo masculino: os registros militares. Foi na base do Projeto GERMIL que encontrei ao menos algumas informações esparsas sobre parentes distantes e indiretos.

O registro de Joaquim Rebosa (1825-1855), tio de meu bisavô e natural de São Mamede de Ribatua, por exemplo, informa que ele media 1,46m, talvez uma altura média para a região e época. Esse registro pode ser visto abaixo.

Já o registro de Júlio de Almeida Rebosa (1852-?), primo de quarto grau, informa que se tratava de um jovem mais alto, pois media 1,57m. Sua maior altura talvez pudesse ser atribuída a fatores genéticos atribuídos à família de sua mãe, talvez ao fato de pertencer a uma geração posterior à de Joaquim.

Manoel Maria de Almeida Rebosa (1850) era irmão de Júlio de Almeida e mais alto do que este: 1,60m. A hipótese genética e a geracional ainda seriam válidas, portanto. Mas é tudo o que sabemos sobre eles.

Os Rebosa citados eram parentes de minha avó paterna. Para olhar o outro lado da família paterna, reapresento meu tio-bisavô Raphael de Araújo (1840-?), que tinha 1,53m quando se alistou como soldado. Era mais alto do que Joaquim Rebosa, porém mais baixo do que os Rebosa da década de 1850.

Sob risco de fazer uma extrapolação muito grande, eu arrisco dizer que meu pai talvez deva sua estatura à família de sua mãe, não à de seu pai. No entanto, até que eu obtenha mais registros militares, é tudo o que posso especular sobre minha família.


José Araújo é linguista e genealogista.