Este segundo texto dedicado ao evento da morte – leia aqui o anterior – trata dos sacramentos da Igreja, os quais, talvez você já saiba, são em número de sete:
- Batismo
- Confissão, penitência ou reconciliação
- Eucaristia
- Confirmação ou crisma
- Sagrado matrimônio
- Ordens sagradas
- Unção dos enfermos
Nos assentos de óbito, os párocos costumavam declarar que os moribundos haviam recebido os sacramentos antes de morrer. Havia, entretanto, quem morresse sem recebê-los, como ocorreu com um tio-avô de minha bisavó paterna, cujo assento de óbito se vê abaixo:
Aqui a transcrição:
Aos 20 dias do mês de fevereiro do ano de 1842, morreu José Pinto do Souto Rebello, viúvo que ficou de Bárbara Ribeiro. Não recebeu os sacramentos por morrer de repente. Testou, mas não apresentaram o testamento seus herdeiros, o motivo porque não faço lembrança []. No seguinte dia foi sepultado dentro da igreja de Nossa Senhora da Assunção da vila de Barcos. E para constar fiz este assento que assino. Era ut supra. – o reitor Antonio Rodrigues Pinheiro
Mas o esperado era morrer “tendo recebido todos os sacramentos”, como se vê no exemplo abaixo, de uma filha do tal tio-avô.
Aqui a transcrição:
Aos nove dias do mês de abril do ano de 1872, nesta freguesia de Barcos, concelho de Tabuaço, diocese de Lamego, na casa de número 19, às quatro horas da manhã, faleceu tendo recebido todos os sacramentos da Santa Igreja um indivíduo do sexo feminino por nome Helena Pinto do Souto, de idade de 60 anos, de estado solteiro e profissão proprietária, natural desta freguesia, moradora na Rua da [Cainha], filha legítima de José Pinto Rebello e Bárbara Ribeiro, já defuntos, a qual fez testamento, não deixou filhos e foi sepultada no cemitério público desta freguesia. E para constar se lavrou em duplicado este assento que assino. Era ut supra. – o abade Antonio Augusto Tavares
Se a expressão corrente era “todos os sacramentos”, podemos entender que devia haver mais de um sacramento relacionado ao momento da morte. E de fato havia:
- Ao moribundo era normalmente ministrado o sétimo sacramento, antes conhecido como extrema-unção, mediante unção com um óleo sagrado;
- O moribundo que tivesse condições de fazê-lo poderia também confessar seus pecados e pedir a absolvição ao pároco, podendo receber uma penitência.
O pároco que redigiu o assento abaixo parece ter sido um homem bem meticuloso, pois listou todos os sacramentos recebidos por Maria Clara nos seus últimos momentos de vida. Mas observe que ele registrou algo mais.
Aqui a transcrição parcial:
Aos nove dias do mês de novembro de 1807, faleceu da vida presente Maria Clara, viúva que ficou de Luis de Amaral, natural desta vila de Barcos. Recebeu os sacramentos da penitência, sagrado viático e extrema-unção e seu corpo foi sepultado dentro desta igreja no dia dez do dito mês em que se lhe fez um ofício de corpo presente. Também fez testamento [fechado] em que dispôs além de outras coisas em quanto ao [] o seguinte: […]
Segundo a Wikipédia, “a palavra viático vem do latim viaticum (de via, caminho), com o significado de provisão para o caminho”, que para a Igreja é “o caminho da terra, a vida corporal, mas também o caminho do céu, ou seja, a entrada, após a morte, na vida eterna”.
O viático nada mais é do que a comunhão eucarística dada a quem está prestes a morrer. O moribundo que pudesse deglutir receberia a eucaristia sob a forma do pão consagrado, enquanto o que não pudesse a receberia apenas pelo vinho.
José Araújo é linguista e genealogista.
2 comentários
Genealogia Prática - Condenação · 17 de dezembro de 2017 às 07:38
[…] questões mais solenes – ou sérias – da fé católica era o recebimento dos sagrados sacramentos à hora da morte. Tanto é assim que era comum o pároco mencionar se o moribundo havia ou não […]
Genealogia Prática - Relevância · 23 de dezembro de 2017 às 07:01
[…] considerados mais importantes da vida das pessoas, pois estavam relacionados aos principais sacramentos da Igreja: nascimento (batismo), casamento (sagrado matrimônio) e óbito (comunhão e […]
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