No ritual do batismo católico, a criança é ungida com óleos santos, e esse ato era normalmente descrito nos assentos paroquiais antigos. No assento transcrito abaixo, de minha antepassada direta de cinco gerações, não foi diferente. Observe o detalhe curioso.
Aqui a transcrição, com um destaque curioso:
Anna, filha legítima de Domingos Nunes e sua mulher Maria Joana, neta paterna de João Nunes e sua mulher Anna Teixeira, e materna de Francisco Pinto e sua mulher Anna Maria, todos do lugar de Safres desta freguesia de São Mamede de Ribatua, nasceu no dia 13 do mês de março do ano de 1806 e no dia 19 do mesmo mês foi solenemente batizada nesta igreja de São Mamede por mim, o abade atual dela, Manoel de Souza Almeida Neves, que a batizei e ungi com os santos óleos na forma do ritual romano de Paulo V. Foram padrinhos João Alves [Seneca] e sua mulher Mariana de Figueiredo, ambos desta mesma freguesia. E para constar fiz este termo, que assinei com o padrinho no dia, mês e ano ut supra.
A curiosidade desse assento é a menção à “forma do ritual romano de Paulo V“. Nascido em família nobre, Camillo Borghese (1552-1621) se tornou papa, com o nome de Paulo V, em 1605 e permaneceu à frente do trono de São Pedro até sua morte. No seu papado foi escrito o Rituale Romanum, obra litúrgica que contém todos os rituais normalmente administrados por um padre.
Interessante mencionar que esse livro continha também o único ritual formal para exorcismo sancionado pela Igreja Católica Romana até finais do século XX.
Nada disso explica o porquê da inusitada referência ao papa em um simples assento batismal. Estaria o pároco por demais preocupado em deixar registrado que seguia à risca o manual litúrgico?
José Araújo é linguista e genealogista.