Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792) foi militar e dentista, pelo que ficou conhecido na posteridade como o Tiradentes. Mas o que realmente lhe deu esse conhecimento póstumo não foi sua vida militar ou sua habilidade de extrair dentes e sim uma conjunção de fatores intimamente relacionados. O primeiro desses fatores foi sua participação no movimento que almejava separar Minas Gerais – não o Brasil – da coroa portuguesa, que na visão dos separatistas espoliava os colonos por meio de impostos abusivos. Por essa participação, ele foi preso e condenado à morte e teve seu corpo esquartejado e exibido para servir de exemplo. O segundo fator teve a ver com a criação de uma data – a de morte de Joaquim, 21 de abril – para reverenciá-lo como herói nacional do povo brasileiro.
Embora não fosse uma pessoa de grandes posses ou tão ilustrado como seus parceiros de movimento, Tiradentes não era pobre e tampouco era ignorante, mas o facto é que sua elevação ao status de figura representativa do movimento obscureceu a atuação de seus parceiros, um dos quais tem parentesco distante comigo por diferentes ramos. Seu nome era Cláudio Manuel da Costa (1729-1789). Além de advogado, Cláudio foi um dos mais importantes poetas árcades no Brasil.
Seu pai era português, mas sua mãe descendia de famílias estabelecidas em São Paulo e São Vicente desde o início da colonização. Teresa Ribeiro de Alvarenga, a mãe de Cláudio, carrega o sobrenome de um de seus ascendentes conhecidos, o cristão-novo Antônio Rodrigues de Alvarenga (1550-1614), que se casou com Ana Ribeiro, filha de Estevão Ribeiro Baião Parente e Madalena Fernandes – mais sobre esta adiante. A neta de Antônio e Ana também se chamava Ana e se casou com Gaspar de Godoy Moreira, filho do também cristão-novo Baltazar de Godoy e de sua mulher Paula Moreira, que por sua vez era neta da cristã-nova Izabel Velho e de seu marido Garcia Rodrigues, que estavam entre os primeiros colonizadores de São Vicente. A filha de Gaspar de Godoy Moreira e Ana de Alvarenga casou-se com Bernardino Chaves Cabral, que era bisneto de Cristóvão Dinis, outro cristão-novo. Também descendo dos Godoys, dos Garcia-Velhos e dos Dinis por meu ramo materno.
Talvez Cláudio não tivesse conhecimento dessas raízes tão profundas na colônia, mas o interessante é que por um dos ramos citados essas raízes seriam anteriores à própria colonização europeia. Isso se daria por conta de sua antepassada Madalena Fernandes. Eis aqui uma confidência que não consta nos livros de genealogia: uma descendente de Madalena em linha direta matrilinear fez um teste de DNA mitocondrial pelo que foi constatado o haplogrupo C1, característico das primeiras habitantes da terra brasilis. Em outras palavras, Madalena ou era uma mulher indígena ou descendia de uma em linha direta materna. Visto que o poeta e inconfidente Cláudio descendia de Madalena em linha direta matrilinear, seu haplogrupo mitocondrial também seria C1.
José Araújo é genealogista.