A empresa MundoDNA lançou há algum tempo uma ferramenta chamada Índice Sefardita que despertou interesse dos membros de diversas comunidades do Facebook. Tal ferramenta indicaria, em uma escala que vai de -2 a 2, respectivamente, a menor ou maior similaridade entre o DNA do cliente e os DNAs de centenas de outros clientes que foram certificados pela Comunidade Israelita de Lisboa e que, portanto, teriam ascendência sefardita confirmada por essa entidade. Por esse índice um cliente que nem desconfie de sua ancestralidade poderia ter indicação da presença de sefarditas em algum ramo de sua árvore familiar, por menos documentada que ela seja.

A empresa afirma ter encontrado “várias marcas de DNA que […] permitiram construir o Índice Sefardita (IS)”, mas obviamente não informa quais são elas por se tratar de segredo de negócio. Ela afirma ainda que “DNAs Sefarditas mais conservados possuem valores de IS acima de 1”. O IS já está na versão 2.0 e conta com uma base de 820 registros, que é o dobro da que apresentava quando foi lançada. Por curiosidade, subi para a plataforma da MundoDNA os dados de meu teste e dos de quatro primos maternos com quem compartilho um ramo muito bem documentado que chega a pelo menos três sefarditas ou cristãos-novos: Baltazar de Godoy, Cristóvão Dinis e Duarte Nunes.

Processo inquisitorial em que Cristóvão Dinis é identificado como cristão-novo

Comparando os resultados da versão 1 e 2 do IS para mim e meus primos, observei a seguinte variação:

Embora saibamos que a herança de DNA é sujeita a muita variação mesmo entre primos próximos, é curioso perceber que o IS da ‘Prima Si’ foi o único que apresentou crescimento significativo. O meu vem em segundo lugar; o do ‘Primo W.’, em terceiro; e o da ‘Prima Su’, em quarto, ainda que tenha ficado abaixo da linha de referência. O IS da ‘Prima R.’ para minha surpresa, embora tenha ficado acima do limite de referência, apresentou redução da primeira para a segunda versão do IS.

A MundoDNA declara que o “valor de IS pode estar subestimado caso [o cliente] descenda de uma linhagem diferente daquela da qual descendem a maioria dos descendentes Sefarditas do nosso banco de dados”, mas os primos que cito têm em comum comigo todos os sefarditas que relacionei acima e talvez tenham outros em ramos que não compartilhamos e não estão documentados na árvore. Ainda assim, a discrepância é digna de nota. Seria ela decorrente apenas da variação na herança do DNA ou de uma imprecisão do IS?


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista

1 comentário

Mitos – Genealogia Prática · 18 de maio de 2023 às 18:15

[…] se chama Índice Sefardita (IS) e já fiz uma análise do potencial dela em sua versão 2 (clique aqui para lê-la). O gráfico comparativo abaixo demonstra como o índice oscilou, em suas versões 1 e 2, na […]

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