A ferramenta Busca Parentes oferecida pelo laboratório Genera – cujo kit parece ser o mais vendido no Brasil, segundo levantamento que fiz recentemente – apresenta ao cliente que a contrata pouco mais que o nome e o e-mail das correspondências (matches) desse cliente e a quantidade de DNA compartilhado (centimorgans ou cM) com ele. Não existe forma de exportar a longa tabela de matches exibida para cruzar dados ou buscar mais informações. Tampouco existe recurso para descobrir matches em comum com outros parentes do cliente que tenham sido testados pelo laboratório, tal como encontramos em ferramentas similares do FamilyTreeDNA e do MyHeritage, que são pagas, ou mesmo no GEDmatch, que é gratuito.

A única forma de tentar obter alguma informação útil pela Busca Parentes é entrar em contato direto com os matches que apresentem um bom número de centimorgans – de preferência acima de 15 cM – e torcer para que eles respondam e que tenham uma árvore bem desenvolvida pela qual se possam deduzir os antepassados em comum. É sempre uma loteria, mas recentemente tirei a sorte grande. O match em questão – um senhor natural do Espírito Santo (ES) – apareceu para minha prima materna Regina, exibiu 37 cM em comum e tinha um sobrenome de família também existente em um dos ramos da árvore que eu e Regina compartilhamos: Moraes / Morais. Embora minha família materna – Pereira Belém – estivesse no Rio de Janeiro desde o século XIX, eu já sabia que havia primos distantes – da família de meu trisavô Pedro Gomes de Moraes – vivendo no ES desde aquele século.

Bandeira do Município de Alegre (ES)

A pessoa – vou identificá-lo como E-Morais – revelou que seu filho fora a pessoa testada. Ambos pai e filho poderiam, então, ser primos meus e de Regina. Esse senhor contou um pouco da história de seu pai Sebastião (1918-2002), natural de Alegre (ES), e de seu avô – Tertuliano Gomes de Moraes (1846-1924) – e enviou-me um arquivo de texto que se revelou um verdadeiro tesouro. Esse arquivo continha anotações de um tio paterno dele em que estavam registrados dados vitais de mais de 60 descendentes de Tertuliano, que era ninguém menos que um sobrinho de minha tetravó Maria Tereza da Paz. No contato com esse novo primo pude compartilhar muitas das descobertas que fiz sobre nossos antepassados coloniais do Rio de Janeiro e São Paulo, que eram totalmente desconhecidos dele.

O contato com os matches nem sempre funciona pela falta de resposta ou pela resposta sem muitos detalhes a acrescentar da outra família, mas, às vezes, a sorte bate à nossa porta. Já tive a oportunidade de confirmar por via documental, após contato por e-mail, diversos matches genéticos relacionados a esse ramo de minha árvore. Todos descendemos do casal João Pinheiro de Souza (1719-1782) e Paula Pereira Monteiro (1725-1815), cuja linhagem espalhou-se pelo Rio de Janeiro, pelo Espírito Santo e por Minas Gerais. Suspeito que a boa quantidade de DNA – variando entre 18,1 cM e 60,4 cM – compartilhada por todos esses matches comigo e meus primos se deva ao significativo grau de endogamia mantido nos ramos descendentes desse casal.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista

1 comentário

Estratégias – Genealogia Prática · 16 de janeiro de 2023 às 11:27

[…] Após ter o resultado de seu teste de DNA liberado, você espera encontrar outras pessoas testadas pelo mesmo laboratório com quem compartilhe um antepassado. Essas pessoas – seus matches ou coincidências -, que eu sempre chamo de ‘primos’, podem ter árvores bem documentadas que tragam pistas úteis para que você evolua em sua pesquisa. Mas o que fazer depois que o laboratório informa que existe uma centena de matches para você? […]

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