Embora tenha havido inúmeros casos de cristãos-novos que se casaram com cristãos-velhos para escapar da vigilância dos agentes do Tribunal do Santo Ofício, o comportamento mais frequente deles era de natureza endogâmica, ou seja, de manter os relacionamentos dentro de sua própria comunidade. Existiu, no entanto, outro comportamento, frequentemente ignorado, e para além dos casamentos, que também tinha relação com a endogamia: a proximidade espacial.
A volumosa pesquisa do historiador Maurício de Almeida Abreu sobre a história da ocupação do solo no Rio de Janeiro – e da qual resultou um banco de dados utilíssimo para a pesquisa genealógica – demonstra que muitos cristãos-novos que viveram no Rio de Janeiro nos séculos XVI e XVII costumavam ter seus engenhos e habitações em lugares específicos. Afirma o pesquisador:
Um aspecto importante dessa endogamia e pouco discutido na literatura foi a proximidade espacial que esses indivíduos insistiam em buscar, o que dava lugar à concentração de suas propriedades rurais e engenhos em determinadas áreas do termo da cidade, sobretudo em Irajá/Meriti e em Guaxindiba, e de suas casas urbanas em certas ruas da cidade notadamente na rua do Rosário […]
Esse costume foi atestado por mim durante a escritura da obra Duarte Nunes o cristão-novo e sua descendência no Brasil. Uma neta de Duarte – filha de sua filha Antônia Rodrigues Sardinha e seu segundo marido Manoel dos Rios -, batizada como Isabel dos Rios, era, nos idos de 1630, senhora do engenho Santíssima Trindade, nas imediações do rio Guaxindiba, identificado no mapa abaixo como Vanxindiba.
O engenho de Isabel estava localizado na região conhecida nos séculos XVI e XVII como sertão da Banda d’Além em terras que foram provavelmente compradas por seu pai Manoel dos Rios e dadas em dote por seu casamento com Sebastião Lobo Pereira. Esse caso demonstra que saber o local onde se situavam as posses de um antepassado pode fornecer pistas importantes para ratificar interpretações similares sobre a origem cristã-nova de um antepassado.
José Araújo é genealogista.