Recentemente divulguei no Instagram a publicação de um pequeno dicionário biográfico de mulheres afrodescendentes e cristãs-novas que viviam no Rio de Janeiro no século XVIII, o qual foi compilado a partir de pesquisas de Anita Novinsky e outros estudiosos do tema. Um seguidor comentou que nunca havia ouvido falar que tais pessoas tivessem existido. Mas elas existiram e, tal como outras mulheres de origem cristã-nova, também sofreram perseguições pelo Tribunal do Santo Ofício.

Capa do Processo de Leonor Mendes – Arquivo da Torre do Tombo

Inclusive já publiquei aqui em outro texto um trecho das diligências de habilitação para a Ordem de Cristo de Antônio Pinto Homem, cujo irmão havia jogado suspeitas sobre sua família ao se casar com uma mulher de sangue duplamente ‘infecto’, como se dizia na época, pois era não apenas afrodescendente como também cristã-nova. É o que se deduz do depoimento do mestre de campo Manoel Pimenta Telo, que teria conhecido a família do habilitante.

Eis o trecho relevante desse depoimento com meus destaques:

[…] e agora de próximo se casou um irmão legítimo do habilitante por nome Manoel Pinto Homem com uma parda forra, filha de Manoel do Vale, o qual já foi penitenciado pelo Santo Ofício, cuja ação deu motivo para se dizer geralmente que ele também era cristão-novo e publicamente o diziam os parentes da tal parda da parte do pai e da mãe nas disputas que tiveram sobre tal casamento e os mais que tiveram notícia do tal casamento […]

Na introdução do dicionário citado apresentam-se alguns factos sobre mulheres como a noiva de Manoel, que em sua maioria eram pardas e em sua quase totalidade tinham apenas parte de cristã-nova, pois eram filhas de homens brancos cristãos-novos com suas escravizadas africanas.


José Araújo é genealogista.