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Aos oito de julho de mil setecentos e cinco faleceu […] dona Maria Machado, [recebeu os sacramentos e fez] seu testamento […] nomeando por seus testamenteiros a seu [filho Francisco Barreto] e seu […] [Cordeiro de] Peralta […] Declarou que era natural desta [cidade], filha legítima de Antônio Machado e de Bárbara [Nunes], já defuntos, e que fora casada com Fernando de Muniz, de que teve sete filhos: três machos e quatro fêmeas. […]

Esse fragmento é o que se consegue extrair da imagem abaixo, que contém o registro do óbito e do testamento de Maria Machado. Ela e seu marido Fernando Muniz (Barreto) são reconhecidos como descendentes de uma das Primeiras Famílias do Rio de Janeiro em obra desse título por Carlos Grandmasson Rheingantz (Vol. II, p. 642).

Óbito de Maria Machado

Nessa obra, Rheingantz relaciona apenas dois dos filhos do casal: Francisco Barreto, cujo nome ainda é legível no assento de óbito de sua mãe e foi identificado como testamenteiro; e Paula Muniz, cujo casamento com Mateus de Peralta de Azevedo era já conhecido. O mestre não identificou em seu tempo os demais filhos, restringindo-se a relacioná-los por gênero e suposta data de nascimento, estimando um intervalo de dois anos entre cada parto no período de 1668 a 1681.

Rheingantz (Vol. II, p. 642)

Outra filha de Fernando e Maria foi identificada em escritura de venda de terras lavrada em 1715 por Gaspar Cordeiro de Peralta e sua mulher Maria Pacheco. Nessa escritura, registra-se que Gaspar fora casado anteriormente com Juliana Barreto, filha de Fernando Muniz Barreto, e que as terras vendidas haviam sido recebidas como dote para realização desse primeiro matrimônio.

Uma terceira filha do casal, esta de identidade ainda desconhecida, foi casada com o cidadão João Veloso de Carvalho, morador da freguesia de Santo Antônio de Jacutinga e grande proprietário de escravizados. Foi graças aos registros paroquiais de batismos e casamentos relacionados a esses escravizados que se chegou ao reconhecimento da existência dessa terceira filha.

Por fim, e graças a mais um documento relacionado a pessoas escravizadas, que vemos e lemos em transcrição a seguir, chegamos à identidade de um segundo filho varão do casal Fernando Muniz e Maria Machado.

Batismo de Tomásia

Tomásia // Aos dez dias do mês de janeiro de mil seiscentos e oitenta e oito batizei e pus os Santos Óleos a Tomásia, mulata escrava de Diogo Domingues, filha de Domingas, do gentio de guiné. Foram padrinhos Luís Teles, filho de Fernando Muniz, e Maria, mulata, escrava do Capitão Manuel da Guarda Muniz. // Antônio Cardoso da Silva.

Com esse último temos condição de colaborar no trabalho iniciado por Rheingantz, considerando que suas estimativas não parecem corresponder à realidade, pois o casamento de Fernando e Maria deve ter ocorrido em 1654, conforme processo matrimonial encontrado no arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro pelo pesquisador Attila Augusto Cruz Machado. Dessa forma, o primeiro filho do casal deve ter nascido a partir de 1654 ou 1655 e suspeito que ele tenha sido Francisco Barreto, que foi nomeado testamenteiro por sua mãe. Eis, então, minha proposta de atualização para o trabalho do mestre Rheingantz:

I.2. Fernando Muniz (Barreto), n. no Rio (Sé 1º, 57) bat. a 14.8.1622 e fal., casado em 1654 com d. Maria Machado, n. no Rio por volta de 1640 e fal. no Rio (Irajá 1º, 16) a 8.7.1705, filha de Antônio Machado de Barcelos e Bárbara Nunes.

Pais de:
II-1. Francisco Barreto, n. por volta de 1655 e fal.
II-2. um(a) filho(a), n. por volta de 1657 e fal.
II-3. uma filha, n. por volta de 1660 e fal., casada por volta de 1680 com João Veloso de Carvalho
II-4. um(a) filho(a), n. por volta de 1665 e fal.
II-5. d. Juliana Barreto, n. por volta de 1667 e fal. por volta de 1690, casada por volta de 1683 com Gaspar Cordeiro de Peralta, ver PERALTA
II-6. Luís Teles, n. por volta de 1670 e fal.
II-7. d. Paula Muniz, n. por volta de 1675 e fal., casada por volta de 1699 com Mateus de Peralta, ver PERALTA

Até que surjam mais evidências, persiste o desconhecimento completo sobre a identidade de dois dos sete filhos de Fernando Muniz e Maria Machado, mas é interessante apontar como dois daqueles que já são conhecidos tiveram escolhas ao mesmo tempo distintas, porém similares, de seus sobrenomes: Barreto e Muniz são sobrenomes encontrados na ascendência paterna. Apenas o Teles do filho Luís segue sem explicação até o momento, porém ele é encontrado no nome de Manoel Teles Barreto (1634-1707), um dos irmãos de seu pai.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista

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