Minha trisavó Julinda Dias Seabra (1843-1884) foi identificada nos documentos da Igreja apenas como filha natural de Eleutéria Rosa da Conceição, mas carregava um sobrenome composto que parecia denunciar a identidade de outra família, talvez a de seu pai biológico. Com auxílio de minha prima e genealogista Cassia Carauta, foi reconhecida a presença de um cidadão português chamado Pedro Dias de Seabra na mesma freguesia de Santo Antônio de Jacutinga, onde Julinda nasceu, teve dois filhos e faleceu.
Pedro desembarcou no Rio de Janeiro em 1837 quando tinha 18 anos de idade, supostamente após deixar sua freguesia natal de Castelo, no Porto, segundo informava a base de dados do Arquivo Nacional. Sete anos depois de desembarcar, Pedro iniciou o processo de banhos para se casar com a carioca Maria da Conceição Correa Vasques e por esse processo, encontrado no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, descobri que ele era, na verdade, natural de São Miguel de Cristelo, e filho legítimo de Antônio Dias Pereira Seabra e Maria Joaquina Dias. Pedro e sua noiva Maria deveriam já viver na freguesia de Marapicu, contígua à de Maxambomba, onde nasceu Julinda. O caso parecia bem documentado, mas eu sentia falta de mais detalhes sobre a ascendência de Pedro Dias de Seabra.

Como desconhecia a freguesia de São Miguel de Cristelo, busquei mais informações no sítio Tombo.pt e descobri que havia três com o mesmo nome e o mesmo orago, sendo duas delas localizadas no município de Paredes, no Porto, e uma em Paredes de Coura, em Viana do Castelo. Nesta última não localizei um assento de batismo para Pedro, que teria nascido em 1819. Nas outras duas não havia livros disponíveis para o período de 1800-1860.
A busca parecia não ter solução até que encontrei um distante match de DNA na plataforma GEDmatch e, por sorte, ele havia incluído uma árvore em seu perfil. Subindo pelos ramos dessa árvore, cheguei a um antepassado desse match chamado Manoel José Dias de Seabra (1787-1863), nascido e falecido na freguesia de Duas Igrejas, no município de Paredes, no Porto. A semelhança de sobrenomes pareceu mais do que apenas coincidência, ainda mais em contexto de provável parentesco genético. E havia mais um detalhe que poderia reforçar o parentesco: a freguesia de Duas Igrejas era vizinha à de Cristelo.

Pelo assento de batismo de Manoel José Dias de Seabra, descobri que ele era filho de José Dias de Seabra e Maria Clara Dias, neto paterno de Manoel Dias Teixeira e Maria Bernarda de Seabra e materno de José Pereira Dias e Teresa Maria da Silva. No livro em que estava o assento de batismo de Manoel encontrei o de um Antônio, filho dos mesmos José e Maria Clara, que transcrevo a seguir.
Antônio, filho legítimo de José Dias de Seabra e mulher Maria Dias, do lugar das Quintãs desta freguesia de Santa Maria de Duas Igrejas, comarca de Penafiel, Bispado do Porto. Nasceu aos vinte e cinto dias do mês de julho do ano de mil setecentos e noventa e quatro. Foi por mim solenemente batizado e recebeu os santos óleos nesta igreja no dia três de agosto do dito ano. O batizado é neto paterno de Manoel Dias Teixeira e de Maria Bernarda de Seabra e materno de José Pereira Dias e de Teresa Maria da Silva, todos desta freguesia. Foram padrinhos Manoel, filho de Manoel Ferreira da Cunha, do lugar de [Gatão] desta freguesia, e Maria, filha de Ana Maria do lugar de Chancela desta freguesia. Foram testemunhas José Pereira Dias, avô do batizado, e Domingos José Borges desta freguesia.
Aqui chamo atenção para a presença de um sobrenome que meu tetravô Pedro Dias de Seabra não usava, mas seu pai Antônio usava: Pereira. Esse mesmo sobrenome surge no ramo ascendente materno dos batizandos Manoel e Antônio por seu avô José Pereira Dias. Penso que não seja apenas coincidência, mas uma ressurgência, algo de que já tratei em texto anterior. A diferença entre as freguesias na qual Antônio foi batizado – Duas Igrejas – e na qual seu filho Pedro nasceu – Cristelo – talvez se explique pelo fato de Maria Joaquina Dias, mãe de Pedro, ser natural desta última. De qualquer forma, a pista que segui parece ter sido bem confiável.
José Araújo é genealogista.
1 comentário
Colaboração – Genealogia Prática · 13 de outubro de 2025 às 06:41
[…] distante que descobri a partir de um match encontrado na plataforma GEDmatch. Falei brevemente dele no texto anterior, mas não abordei a intensa conversa que temos mantido desde então. Esse primo, chamado Miguel, […]
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