Os assentos de batismo, casamento e óbito são as fontes mais frequentemente utilizadas pelo genealogista, pois eles fornecem informações de natureza diversa sobre o antepassado sob investigação:
- Temporal: datas relativas aos principais eventos na vida dos antepassados;
- Relacional: relações de parentesco e de afinidade (p.ex. padrinhos de batizandos);
- Financeira: heranças, formas de tratamento que denotam o status social.
Apesar de seu valor intrínseco, os assentos estão longe de ser as únicas fontes na pesquisa genealógica, pois a eles podemos acrescentar as fotografias, os registros escolares e acadêmicos, os testamentos e os registros militares, apenas para citar alguns.
Registros acadêmicos podem ser encontrados nos arquivos das instituições de ensino onde o antepassado estudou. Atualmente, é possível mesmo encontrar as referências a esses registros nos sites das instituições, e posso citar um exemplo de minha árvore familiar: a matrícula do estudante José Pinto Rebello de Carvalho – sobre o qual já tratei em outro texto – na Universidade de Coimbra (UC).
A referência ao estudante foi encontrada mediante busca na ferramenta do site da universidade. Após solicitação em formulário específico e pagamento das taxas de pesquisa e digitalização, recebi da instituição, por e-mail, uma cópia desses registros, um dos quais se vê abaixo.
Interessante nesse registro, além da assinatura do antepassado, é saber que sua matrícula se deu mediante apresentação de uma certidão de idade. Essa certidão, que o arquivo da UC também forneceu, contém uma cópia do assento de batismo de José Rebello, o qual, até o momento em que escrevi este texto, não estava disponível entre os livros digitalizados da freguesia onde ele nasceu. A cópia do assento pode ser vista abaixo.
Aqui a transcrição:
José Pinto Rebello de Carvalho, filho de José Pinto do Souto, natural da freguesia de Barcos, para requerimentos que tem, pretende que reverendo pároco da mesma lhe passe certidão o teor do assento de seu batismo.Em cumprimento do despacho supra, vendo o livro de batizados desta freguesia de Barcos em [], achei o assento na maneira e forma [legítima]. Aos 25 dias do mês de fevereiro do ano de 1788, nesta igreja paroquial e colegiada de Barcos, batizei solenemente a José, que tinha nascido em 15 do mesmo mês pelas nove horas do dia, filho legítimo e primeiro matrimônio de José Pinto do Souto e Bárbara Theresa Ribeiro, naturais desta dita freguesia. Neto pela parte paterna de Antonio Pinto Rebello, natura desta dita freguesia e de sua primeira mulher Maria Josefa, natural de Santa Leocádia, e pela materna neto de Manoel Fernandes e sua e sua mulher Luísa Ribeiro, natural de Tabuaço. Foram padrinhos o doutor médico Manoel Ferreira de Amorim Monteiro e sua mulher dona Maria. E por verdade faço este assento que assine com as testemunhas presentes padre Matias Pereira, sacristão, e José Bernardo, dia, mês e ano ut supra. – o vigário Geminiano [] da Costa e não continha mais o dito assento, que aqui copiei. Barcos, 22 de junho de [1800] – o pároco Serafim Duarte dos Santos
Os registros militares, por sua vez, podem ser procurados em sites como o do Arquivo Histórico Militar de Portugal ou no site do Projeto Genealogia em Registos Militares (GERMIL). Foi neste segundo site que busquei e encontrei registros sobre o irmão de José Pinto Rebello, o tenente Caetano Pinto Rebello, ao qual também já dediquei um texto aqui no blog.
A surpresa da pesquisa pelo nome de Caetano Rebello no site do GERMIL foi a descoberta de certo Júlio Pinto Rebello, relacionado como filho de Caetano e até então desconhecido para mim, pois minha pesquisa anterior havia revelado apenas os seis filhos que Caetano tivera em sua cidade natal de Barcos, em Viseu, com sua mulher Dona Maria Augusta Pinto entre 1843 e 1858. Esse filho, como descobri em seguida, havia nascido na cidade materna de sua mãe, São Miguel de Lobrigos, hoje em Vila Real. O assento de batismo de Júlio pode ser visto abaixo.
E aqui a transcrição:
Júlio, filho de Caetano Pinto Rebelo, que disse na minha presença e das testemunhas abaixo nomeadas é do lugar e freguesia de Nossa Senhora de Barcos, do bispado de Lamego, também filho de Maria Augusta do lugar de Santa Marta, desta freguesia de São Miguel de Lobrigos, neto paterno de José Pinto do Souto Rabello de Carvalho e Dona Maria, digo, Bárbara Ribeiro da freguesia de Nossa Senhora da Assunção, materno de Luiz Maria do Nascimento e Antonia Rosa, do lugar de Santa Martha desta freguesia de São Miguel de Lobrigos, nasceu no dia 22 de junho de 1839 e foi batizado solenemente e postos os santos óleos por mim, o padre João [] nesta igreja paroquial de São Miguel de Lobrigos no impedimento do pároco no dia cinco de julho do dito ano. Foram padrinhos o padre Francisco [] do [alto de] Santa Martha, Dona [] Carmo de Santa Martha, testemunhas Manoel Antonio [] José [Taveira] de Magalhães [] e para constar fiz este termo dia []
Outros sites onde se podem buscar fontes sobre nossos antepassados em Portugal e no Brasil são relacionados na seção de Ferramentas deste blog.
José Araújo é linguista e genealogista.
6 comentários
Retratos – Genealogia Prática · 28 de julho de 2017 às 07:39
[…] sendo o primeiro o de um parente indireto chamado Júlio Pinto Rebello, sobre quem já falei em outro texto aqui no blog. O registro encontrado não é um documento, mas um resultado de busca no site do […]
Falantes – Genealogia Prática · 1 de agosto de 2017 às 05:04
[…] Esse primo se chamava José Pinto Rebello de Carvalho (1788-1870) e já dediquei alguns textos a ele aqui no blog em que tento reconstruir sua história. O período mais interessante de sua vida parece ter sido o de sua passagem pela Universidade de Coimbra (UC), na qual foi admitido em 1815, segundo o registro de matrícula encaminhado pela instituição, sobre o qual já havia tratado em outro texto. […]
Poema – Genealogia Prática · 10 de agosto de 2017 às 06:49
[…] A literatura, no entanto, também pode fornecer pistas sobre nossos antepassados. É exatamente isso o que pretendo provar com o poema abaixo, escrito por José Pinto Rebello de Carvalho, primo de minha trisavó paterna sobre quem já tratei em alguns textos – especialmente neste e neste. […]
Muros – Genealogia Prática · 30 de setembro de 2017 às 09:05
[…] se os assentos de batismo, casamento e óbito não avançam além de determinada data, tente outras fontes, como as militares, as acadêmicas e os […]
Custodiadoras – Genealogia Prática · 16 de outubro de 2017 às 17:56
[…] nasceu em Portugal. Seu local e data de nascimento são conhecidos, bem como boa parte de sua vida acadêmica e política. Sua morte, entretanto, é mencionada, segundo a literatura, apenas como tendo ocorrido […]
Google – Genealogia Prática · 22 de outubro de 2017 às 04:06
[…] fontes primárias – assentos paroquiais de batismo, casamento e óbito; testamentos; cartas; jornais e revistas entre outros -, mas também pode recorrer a bases de dados criadas a partir das já […]
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