Na pesquisa documental, por vezes nos deparamos com coincidências e mistérios. Os dois casos abaixo ilustram essas situações.
O primeiro caso foi encontrado no mais antigo registro paroquial em minha árvore de costados até este momento. Trata-se do assento de casamento de Manoel e Maria Nunes, meus antepassados de nona geração. A curiosidade está na coincidência dos nomes de suas mães, ambas já falecidas na data do casamento.
Aqui a transcrição:
Aos 22 de fevereiro de 1687 se receberam na forma do sagrado concílio tridentino, por palavras [de presença], em presença do [padre Gaspar], coadjutor desta igreja, Manoel Nunes, filho de João Cabral e de sua mulher Beatriz Nunes, já defunta, moradores nesta […] de Vilar de Maçada, e Maria Nunes, filha de Francisco [Fernandes] e de sua mulher Beatriz Nunes, já defunta. Não houve impedimento, nem eu o sei. Foram testemunhas João Martins […] e Francisco Correa, todos de Francellos
Coincidências como essa exigem uma pesquisa aprofundada nos assentos paroquiais. Infelizmente, nem sempre todos sobreviveram à passagem do tempo e nem todos os que sobreviveram foram digitalizados, portanto a questão pode ficar sem resolução durante muito tempo.
O segundo caso foi encontrado no assento de batismo de Maria Pinto, minha antepassada de sexta geração. A curiosidade está no aparecimento de um personagem misterioso, um galego. Embora eu já houvesse encontrado vários assentos de óbitos de cidadãos galegos nos livros paroquiais portugueses, este foi o primeiro registro em minha árvore de costados e a primeira possível ligação ancestral entre Portugal e Espanha em minha família paterna, que é toda oriunda de uma região de Portugal que não fica longe da Espanha.
Aqui a transcrição:
Maria filha de Antonio Teixeira Martins e Catharina Pinto, digo, filha legítima destes, neta paterna de Caetano Gonçalves e de sua mulher Antonia Teixeira, do lugar do Amieiro, e materna de Manoel Pinto e de Maria Pereira, desta mesma freguesia, nasceu aos 18 dias do mês de março e foi batizada aos 26 do mesmo mês de 1782 por mim, o padre Antonio Pinto de Queirós, por comissão do reverendo abade Paulo José Teixeira da dita freguesia. Foram padrinhos Bartolo Lomellas, [do reino de Galiza], lugar de Santiago do Covelo, bispado de Ourense, e madrinha Maria de Carvalho, do lugar do [Amieiro]. E para constar fiz este assento que assinou o padrinho […] madrinha. São Mamede de Ribatua dia, mês, ano ut supra.
Não está claro ainda – e talvez nunca fique claro – se Bartolo é um parente, mas é um fato a ser considerado nas pesquisas futuras. O assento de Antonio Manoel, irmão de Maria, apresentou padrinhos diferentes, portanto fica o mistério: quem seria esse galego?
José Araújo é linguista e genealogista.