O batismo deveria ocorrer pouco tempo – às vezes dias – depois do nascimento, pois temia-se que a criança morresse sem esse sacramento e acabasse vagando pelo limbo. Além disso, no campo, era comum acreditar que crianças não batizadas atraíssem malefícios para dentro da família. Para evitar que a criança morresse sem o batismo, as parteiras e madrinhas eram instruídas a ministrar batismos de emergência, até que fosse possível a realização do batismo oficial, sub conditione, na paróquia.
Fonte: Genealogia Prática – Nascimento
Francisco José, filho de meu pentavô, o cirurgião António Pinto Rebello (1727-1808), e de Maria Josefa do Souto (1733-1786), recebeu o batismo sub conditione, após ter sido batizado em casa, como se lê neste assento, encontrado nos Registros Diocesanos de Lamego, 1529-1963, no FamilySearch, ao qual acrescentei alguns destaques:
Aos onze dias do mês de março de mil setecentos e setenta anos, nesta paroquial igreja e colegiada de Nossa Senhora da Assunção desta vila de Barcos, batizei debaixo de condição e pus os santos óleos solenemente a Francisco, filho legítimo de Antonio Pinto Rebello, cirurgião, e de Maria Josefa, natural de Santa Leocádia, onde foi batizada, e o dito Antonio Pinto, nesta igreja de Barcos, o qual tinha sido batizado em casa* por Rosa Ferreira, mulher de Bernardo Pinto, e fazendo averiguação de como tinha feito o dito batismo, achei que estava duvidoso no prático, conforme os melhores autores, por dizer que pronunciando a forma ‘Eu te batizo em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo’, tinha intenção de fazer aquela alma cristã, e que acabadas (sic) de pronunciar as palavras da forma, tomara nas mãos um pouco de água, ela lançara na testa e nos olhos, e os pais do dito menino foram recebidos nesta igreja, sendo primeiro matrimônio da parte do dito Antonio Pinto Rebello, e da parte da dita Maria Josefa do Souto é segundo, por ter casado a primeira vez com João Ribeiro, natural da aldeia de Armamar, sendo recebidos na igreja de São Bartolomeu do lugar de Santa Leocádia e está seu corpo sepultado dentro desta igreja de Barcos, de cujo matrimônio lhe ficou somente uma filha chamada Josefa. Neto pela parte paterna de José Pinto, natural e morador nesta vila, onde foi batizado, e de sua mulher Anna Rodrigues, natural do lugar de Adorigo, onde se batizou e foram recebidos e está sepultada dentro da igreja matriz, sendo primeiro matrimônio da parte de ambos, e pela materna neto de Domingos da Silva e de sua mulher Josefa do Souto, naturais e moradores no lugar de Santa Leocádia, onde foi batizada e recebidos, sendo primeiro matrimônio da parte de ambos, e o dito Domingos da Silva foi batizado na igreja de Nossa Senhora do Sabroso. Nomeei por padrinho a Mathias Pereira, desta vila, por se não achar no ato do batismo o pai da criança, e foi madrinha Ana, solteira, irmã da mãe do menino, natural de Santa Leocádia. E por verdade fiz este termo de assento que assinei dia, mês e ano ut supra.
*Em vinte e seis de fevereiro do mesmo ano pelas seis horas da manhã
É curioso o trecho destacado em que o pároco justifica, com base nas referências canônicas, o equívoco da mulher de Bernardo Pinto, que talvez fosse parteira ou apenas uma vizinha prestativa. Creio que o problema estivesse no gesto realizado após as palavras ditas – tomara nas mãos um pouco de água, ela lançara na testa e nos olhos [da criança]. Não encontrei no livro nada similar, o que tornou esse registo precioso.
Outro facto de possível interesse para a reconstituição da história de meu pentavô – destacado no segundo trecho – diz respeito a sua ausência no momento do batismo oficial. António era cirurgião e talvez fosse muito requisitado, o que pode explicar o ocorrido. Seu falecimento, a propósito, na avançada idade de 81 anos, ocorreu por acidente quando ele estava “indo ou sendo chamado a Távora para ver o abade da mesma freguesia de São João Batista de Távora“, segundo informa seu assento de óbito exibido abaixo.
José Araújo é linguista e genealogista.
1 comentário
Genealogia Prática - Nascimento · 12 de setembro de 2019 às 07:43
[…] a ministrar batismos de emergência, até que fosse possível a realização do batismo oficial, sub conditione, na […]
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