A existência de inúmeros grupos de redes sociais dedicados à Genealogia, muitos contando milhares de participantes, demonstra que essa ciência aplicada não só sobreviveu à passagem do tempo, como também se tornou mais vibrante e relevante no mundo contemporâneo. Em minha opinião, a iniciativa que melhor celebra a contemporaneidade, a relevância e também a beleza e a complexidade do trabalho genealógico é a série Finding Your Roots, da Public Broadcasting Service (PBS), rede de televisão americana de caráter educativo-cultural. Embora o foco deste blogue seja a genealogia brasileira e portuguesa, creio que a série da PBS mereça ser um espaço aqui por sua qualidade e seu caráter didático.
Apresentada pelo professor e pesquisador Henry Louis Gates Jr. e já na sexta temporada, a série convida em cada episódio três personalidades americanas que estejam interessadas em saber mais sobre as origens de suas famílias. Ainda que alguns dos convidados não sejam conhecidos dos brasileiros, a narrativa que se faz das histórias familiares pela via da busca de documentos e até por meio de testes genéticos nos aproxima dessas pessoas que, como muitos brasileiros, são descendentes de imigrantes e de pessoas escravizadas.
De comum nas várias histórias de vida, percebemos um desconhecimento do passado familiar resultante do silêncio que as gerações mais próximas – pais e avôs dos convidados – guardavam a respeito daqueles que viveram antes deles, um facto que eu também experimentei assim que comecei a pesquisar a história de minha família paterna em Portugal – minha tia paterna mais idosa revelou certa vez que seus pais não falavam do passado. Pelo que já observei nas discussões de vários grupos do Facebook, esse silêncio é algo bastante comum e, infelizmente, dificulta muito a pesquisa.
Os episódios dedicados aos afrodescendentes são os que mais me impressionam pela quantidade de documentos encontrados nos arquivos dos censos de proprietários de pessoas escravizadas -, os quais não existem mais no Brasil. Graças à preservação documental pelos arquivos americanos, os convidados afrodescendentes conseguem alcançar gerações de suas famílias que poucas vezes são alcançáveis por brasileiros.
Os convidados que descendem de judeus oriundos do leste europeu, pessoas cujas aldeias de origem foram destruídas em pogroms, conseguem saber de sua história familiar porque os pesquisadores contratados pelo programa conseguem obter dados em arquivos de países como a Polônia e a Ucrânia. Graças à preservação dos arquivos desses países, histórias de várias gerações são elucidadas e apresentadas, muitas vezes deixando os convidados emocionados.
Infelizmente, o programa não foi exibido no Brasil, portanto seu conteúdo, parcialmente disponível no YouTube, está acessível apenas para quem tem bom domínio do inglês, para quem eu o recomendo de forma enfática como estratégia de aprendizagem para aquisição do conhecimento de como se faz uma pesquisa e se apresentam seus resultados.
Na Kindle Store podem ser encontradas, também apenas em inglês, algumas obras relacionadas ao programa, cuja leitura eu também recomendo pelas mesmas razões. Essas obras estão listadas na página Livros deste blogue.
José Araújo é linguista e genealogista.