Os testes genéticos são complementares à pesquisa documental e podem, em alguns casos, ajudar a encontrar ramos familiares até então desconhecidos. Sua interpretação não costuma ser simples para o leigo, portanto é necessário aprender sobre genealogia genética e, sempre que possível, buscar ajuda em comunidades específicas no Facebook, por exemplo.

Mas esses testes podem também servir à vaidade daquele que tem seu DNA analisado. Um exemplo disso é a identificação de pessoas famosas que compartilham conosco o haplogrupo de DNA-Y – herdado exclusivamente pela linha paterna – ou de DNA mitocondrial – herdado exclusivamente pela linha materna.

Haplogrupos são ramos da árvore genealógica do homo sapiens que se caracterizam por apresentar ancestrais comuns – masculinos, para o DNA-Y, femininos para o DNA mitocondrial – identificados por determinadas variações acumuladas nos componentes da estrutura do DNA. Como a concentração maior de cada haplogrupo está hoje associada a uma determinada localização geográfica, deduz-se que seja sua origem esteja nessa localização.

Meu haplogrupo de DNA-Y, herdado de meu pai via meu avô, meu bisavô etc. é o G-M406, ramo G-P15, encontrado com maior frequência na Europa e no Oriente Médio. Por meio de uma prima, filha de uma irmã de meu pai, consegui também o resultado do DNA mitocondrial de minha avó paterna, que esta herdou de sua mãe, avó etc. Todas tinham o haplogrupo V.

No sítio da Eupedia, é possível descobrir que celebridades – boas ou más – compartilham conosco uma história no nível dos genes. Essas celebridades são como nossos primos distantes, de quem podemos estar separados por milhares de anos.

No ramo de meu avô paterno, por exemplo, estou no mesmo haplogrupo do ator americano Jake Gyllenhaal, que teve sua genética decifrada na série da PBS Finding Your Roots (Descobrindo suas Raízes, em tradução aproximada), da qual participou sua irmã Maggie. O livro homônimo, publicado pelo acadêmico Henry Louis Gates Jr., apresentador da série, informa que:

Traçamos a linha paterna direta de Maggie até seu nono bisavô, Gunne Olofsson Haal, nascido em Härene, na Suécia, por volta de 1634. Administramos um teste de DNA para seu pai, Stephen, para descobrir a origem de seus ancestrais paternos. O haplogrupo paterno de Maggie é G2a, um subgrupo do haplogrupo G. O haplogrupo G surgiu cerca de dezesseis mil anos atrás no sudoeste da Ásia ou na região do Cáucaso. Com o advento da agricultura no Oriente Próximo, há cerca de dez mil anos, o haplogrupo G se espalhou pela Europa, onde hoje pode ser encontrado em níveis baixos. Na Suécia, no entanto, é encontrado em níveis inferiores a 10% na população em geral. A ocorrência do haplogrupo G aumenta levemente – para cerca de 12% – na província oriental da Suécia chamada Uppsala, onde fica a universidade que abriga a coleção de besouros de Leonard Gyllenhaal [primo de Maggie e Jake].

No ramo de minha avó paterna, compartilho uma antepassada remota com o vocalista do U2 Bono e com Benjamin Franklin (1785–1788), um dos pais da nação americana.

Em termos concretos, não tenho nenhum parentesco direto com essas celebridades que possa ser comprovado por vias documentais. Ainda assim, a genealogia genética informa que somos de alguma forma aparentados.


José Araújo é linguista e genealogista.


José Araújo

Genealogista