Existem diversas razões por que às vezes não se encontra um assento ou uma certidão quando se faz uma busca em sítios como o FamilySearch. Uma dessas razões é a falha de indexação, de que já tratei em outro texto, que ocorre quando um voluntário pouco experiente grafa um nome incorretamente no sistema, e essa grafia incorreta fica associada a um documento. Esse tipo de falha só é evidenciado depois de muitas tentativas de localizar um documento por meio da ferramenta de busca.
Outra razão, essa mais complexa, ocorre quando o erro de grafia foi cometido pelo pároco ou pelo oficial do cartório ou conservatória responsável pelos registros. Parece que foi isso que ocorreu com meu tio-avô materno Sérvulo Pereira Belém. E o problema parece ter começado já em seu assento de batismo, que transcrevo e exibo abaixo:
Aos dez dias do mês de maio de mil oitocentos e oitenta e cinco, nesta paroquial igreja de Nossa Senhora da Conceição do Bananal, batizei solenemente o pus os santos óleos a Anselmo, de cor parda escura, nascido no dia vinte e quatro de novembro do ano passado, filho natural de Theodora Maria da Conceição, natural e paroquiana desta freguesia. Foi padrinho João José de Sousa, solteiro, e assistente Nossa Senhora da Conceição. Do que, para constar, fiz este assento que assinei.
Meus bisavós maternos João e Theodora Maria casariam-se civilmente mais tarde, reconhecendo então todos os filhos que haviam tido. Na certidão de casamento deles, transcrita e exibida a seguir, o nome de meu tio-avô foi grafado como parece ter sido a intenção de seus pais:
Número 11. Aos 17 dias do mês de novembro do ano de 1900, neste distrito de Marapicu, município de Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, ao meio-dia na casa de residência e sala de audiências do primeiro Juiz de Paz Major Manoel Pinto Marques, presente este juiz, comigo escrivão de seu cargo, abaixo nomeados os contraentes João Pereira Belém e Theodora Maria da Conceição […] o primeiro com 52 anos de idade, agricultor, […], o segundo com 48 anos de idade, […] ambos naturais do Distrito de Bananal de Iguaçu, digo, Bananal de Itaguaí e domiciliados neste distrito, os quais declararam, no mesmo ato, que antes do matrimônio tiveram os seguintes filhos: Pedro Pereira Belém, com 21 anos de idade, João Pereira Belém, com 19 anos de idade, Sérvulo Pereira Belém, com 16 anos de idade […]
Mas a sina de Sérvulo parece ter sido mesmo a de ver seu nome grafado incorretamente , como observamos em sua certidão de casamento, transcrita e exibida abaixo:
Termo de casamento número cento e noventa e um. Aos oito dias do mês de janeiro de mil novecentes e doze, nesta cidade de Maxambomba, primeiro distrito do município de Iguaçu, estado do Rio de Janeiro […] Selvo Pereira Belém, filho legítimo de João Pereira Belém, solteiro, com vinte cinco anos de idade, natural deste município e residente neste distrito, com Dona Generoza Nery de Almeida […]
Sua certidão de óbito ainda não foi encontrada, mas pode-se imaginar que tenha havido outro equívoco para ratificar a sina de meu tio-avô Sérvulo. Erros de registro não são raros, considerando que muitos assentos foram escritos por párocos com pouca instrução formal e mesmo, por conta da idade, com problemas auditivos. Quando os pais da criança eram analfabetos – outro facto comum – os riscos apenas aumentavam.
José Araújo é linguista e genealogista.
2 comentários
Temporã – Genealogia Prática · 30 de julho de 2020 às 08:01
[…] Pereira Belém, com 21 anos de idade [1879], João Pereira Belém, com 19 anos de idade [1881], Sérvulo Pereira Belém, com 16 anos de idade [1884], Antônio Pereira Belém com 14 anos de idade [1886], Enéas Pereira […]
Precoce – Genealogia Prática · 9 de março de 2022 às 10:45
[…] um caso assim em minha árvore a respeito de minha tia-avó Generosa Nery, casada com meu tio-avô Sérvulo Pereira Belém (1884-1960). Generosa era natural do Estado do Espírito Santo (ES) e teria nascido em 1897, […]
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