Com a popularização dos testes de genealogia genética, muitas pessoas têm recorrido a essa ferramenta para tentar entender suas origens familiares ou até descobrir essas origens, como no caso de pessoas que foram adotadas e podem não ter a menor pista a respeito de suas famílias biológicas. Enquanto estas muitas vezes sofrem por nem poder começar a elaborar o esboço de uma árvore familiar, aquelas podem perder a oportunidade de aproveitar o melhor dos testes, que é o resultado da combinação de pesquisa genética com pesquisa documental.

O conselho é simples: invista primeiro em uma pesquisa documental e avance até onde for possível pelas gerações (avós, bisavós, trisavós…) de ambos os ramos familiares (materno e paterno). Só assim o resultado de um teste genético poderá começar a apresentar sugestões de primos (matches) que possam estar relacionados a um desses ramos em alguma geração conhecida. Embora minha árvore ainda apresente alguns ramos maternos mal desenvolvidos, existem outros que têm apresentado potencial graças aos testes que fiz e ‘patrocinei’ para meus primos.

Recentemente recebi do MyHeritage, a ferramenta onde hospedo a árvore de minha família, o alerta de que teria surgido um primo de nome João Paulo, que compartilha uma boa dezena de centimorgans comigo (62.8‎ cM) e com um primo materno que chamarei de W. (64.6‎ cM). Segundo a ferramenta, teríamos um antepassado em comum com João lá pela geração dos tetravós, embora eu suspeitasse que pudesse até ser anterior a ela.

João Paulo aparece em uma árvore de família com 251 pessoas que é administrada por sua mãe. Felizmente, essa árvore estava aberta para consulta e apresentava alguns ramos do Rio de Janeiro – onde tenho registros de minha família recente. Para descobrir onde poderia estar nosso antepassado comum, a iniciativa mais simples seria buscar mais informações com a pessoa que administra a árvore de João, mas isso se revelou infrutífero na primeira tentativa.

A outra possibilidade seria recriar a árvore dele nos ramos mais promissores – os do Rio de Janeiro – e tentar expandir esses ramos para além do que foi registrado na árvore dele. Assim eu procedi e foi dessa forma que consegui descobrir que existia em um dos ramos familiares de João um casal – Felipe Nery de Moura e Páscoa Maria de Oliveira – que também se encontrava em minha árvore, ainda que de forma indireta. Esse casal se liga de diversas formas às famílias Pereira Belém e Soares da Silva, onde acredito estarem as origens de minha família materna pelo ramo de minha trisavó Joaquina da Conceição, mãe de meu bisavô João Pereira Belém, filho ilegítimo de Pedro Gomes de Moraes.

Óbito de João Pereira Belém – Correio da Lavoura 1921

O facto de meu bisavô não ter recebido os sobrenomes de seu pai sugere que não houve reconhecimento de paternidade ou que ele recebeu os da família de sua mãe, hipótese que permanece mais plausível. Embora o mistério persista, a descoberta desse novo primo genético ratifica as interpretações que fiz a respeito das origens de meu bisavô João Pereira Belém. E nada disso teria sido possível sem a benéfica combinação de testagem genética com pesquisa documental.


José Araújo é genealogista.


José Araújo

Genealogista