Não sou historiador, porém a pesquisa genealógica me obriga a estudar não apenas a respeito dos períodos históricos em que viveram meus antepassados como também a respeito do fazer histórico propriamente dito – a coleta das fontes documentais, sua análise e o registro dos resultados – e da historiografia, o estudo da evolução dessa ciência. Na seção Livros apresento as obras que busquei para melhor realizar minhas análises e interpretações dos diversos registros documentais que encontro para trazer à luz a história de minha família.
Um aspecto que me despertou grande interesse nesses estudos foi a crescente interdisciplinaridade da História durante o século passado, isto é, a constatação de que o trabalho do historiador não poderia prescindir dos conhecimentos oriundos em outras áreas, como a Antropologia, a Comunicação Social, a Filosofia, a Linguística – minha área de formação – e até dos estudos literários. Essa ampliação dos olhares sobre a História se reflete aqui no blog, por exemplo, no recurso a textos literários e jornalísticos produzidos por – ou a respeito de – meus parentes como forma de interpretar suas ações e, na medida do possível, busca entender o que sentiam e pensavam.
Uma questão apresentada em uma das obras de referência consultadas e que muito despertou minha atenção foi a constatação de que o historiador “começou a se perceber como literato, e muitos passaram a buscar aprimorar novas formas de expressão na elaboração” de seus relatos. Foi assim que a História começou a frequentar outros ambientes além do acadêmico e muitos não historiadores praticamente se tornaram best sellers, como foi o caso de Eduardo Bueno, Laurentino Gomes e Pedro Doria, o que gerou desconforto entre alguns historiadores propriamente ditos.
Pensar em novas formas de expressão na elaboração dos relatos me estimulou a produzir um gênero de texto diferente aqui no blog. Esse texto seria fundamentado em informações obtidas a partir de uma entrevista feita com uma irmã de meu pai. Essa entrevista teve o propósito de resgatar fatos sobre a vida de meus avós paternos, fatos esses que minha tia ou testemunhou ou ouviu como narrativas de família. Essa tia se revelou uma testemunha bastante fiel para o resgate de fatos e narrativas, portanto eu sabia que poderia obter muitas informações relevantes com as quais tecer um texto diferente.
O roteiro da entrevista, que foi conduzida pela filha dessa tia durante um fim de semana, pode ser visto abaixo.
- Onde ficava a casa dos Araújo?
- Os parentes de vovó – família Rebosa – viviam em Nova Iguaçu?
- A tia chegou a conhecer esses parentes?
- Como era vovô como pai, no dia a dia? Era severo, carinhoso, calado?
- Ele gostava de ler? O que ele lia? E vovó?
- Vovô chegou a voltar a Portugal em algum momento?
- Ele falava sobre a vida em Portugal? Falava dos parentes? O que a tia sabe dos avós dela?
- A família Araújo vivia com conforto material?
- Vovô era religioso? Ia às missas? Fazia questão que os filhos fizessem primeira-comunhão?
- Ele tinha amigos? Eram portugueses ou brasileiros?
- Ele se vestia bem? Era vaidoso?
O relato elaborado a partir dessa entrevista poderá ser lido no próximo texto.
José Araújo é linguista e genealogista.