[A paleogenética] nos ensinou que os quase-macacos evocados nas primeiras descrições de Neandertais eram na verdade homens loiros ou ruivos, de pele e olhos claros, que poderiam passar por europeus do norte. Hoje sabemos que se um Neandertal vestido pegasse o metrô conosco, poderia até passar desapercebido. _ Neandertal, nosso irmão: Uma breve história do homem – Silvana Condemi, François Savatier, Benoît Clarys e Fernando Scheibe
O homo neanderthalensis ou Homem de Neandertal foi uma espécie ou subespécie de homem arcaico que viveu na Europa e na Ásia e se tornou extinta há cerca de 40 mil anos. Fisicamente, ele era mais baixo e atarracado que nós – com pernas curtas e tronco robusto – provavelmente como consequência de uma evolução adaptativa aos climas mais frios em que vivia, pois seu tipo compacto ajudava a preservar o calor corporal.
A partir de 2010 começaram a surgir evidências de que o homem de Neandertal poderia ter não apenas convivido, mas também procriado com nossa espécie – o homo sapiens. As evidências desses cruzamentos podem ser encontradas hoje mediante realização de testes genéticos específicos, mas tudo indica que elas sejam observadas apenas entre os descendentes de europeus – pois os neandertais teriam origem europeia – e de asiáticos.
Essa certeza de um berço europeu se baseia em três constatações: 1) por um lado só se identificam Pré-Neandertais, isto é, ancestrais dos Neandertais, na Europa; 2) em seguida, o processo evolutivo que produziu os neandertais só pode ser acompanhado nesse continente; 3) finalmente, só se encontram fósseis neandertais em grande número na Europa, ainda que existam alguns, mais raros e recentes, na Ásia. A inexistência de Pré-Neandertais antigos fora do solo europeu leva a crer que os Neandertais colonizaram a Ásia central e o Oriente Próximo a partir da Europa e quando o conjunto das características neandertais já tinha se consolidado. O centro da “neandertalização” se situa na Europa ocidental, ao passo que os traços neandertais parecem cada vez menos acentuados à medida que se vai em direção ao leste. _ Neandertal, nosso irmão: Uma breve história do homem – Silvana Condemi, François Savatier, Benoît Clarys e Fernando Scheibe
Aparentemente, os cruzamentos entre as espécies foram vantajosos para nossos antepassados sapiens, pois lhes conferiram vantagens adaptativas aos climas mais frios e às condições mais inóspitas do norte europeu e da Ásia. Como consequência desses cruzamentos, os eurasianos costumam apresentar entre 1,5% e 2,1% de DNA neandertal, enquanto as populações subsaarianas apresentam percentual em torno de 0,3% , segundo pesquisa recente. Meus antepassados paternos – e também um ramo materno – viveram na Europa, o que explica o percentual exibido abaixo, como resultado – bastante normal, a propósito – do rastreamento de DNA primitivo em meu genoma:
O percentual denisovano – bem menor – é referente a outra subespécie primitiva, cujos fósseis foram encontrados em Denisova, sul da Sibéria, e que também procriou com nossos ancestrais sapiens. No vídeo abaixo, com som original em francês, pode-se assistir a uma apresentação da pesquisadora Silvana Condemi sobre as descobertas mais recentes a respeito dos neandertais.
O sequenciamento do DNA neandertal veio confirmar aquilo que o estudo aprofundado dos fósseis nos anos 1980 já tinha provado: que a espécie Homo neanderthalensis se desenvolveu paralelamente à espécie Homo sapiens na África. Ou seja, Neandertal é nosso irmão, descendente de uma mesma “espécie mãe”, e não nosso ancestral primitivo! _ Neandertal, nosso irmão: Uma breve história do homem – Silvana Condemi, François Savatier, Benoît Clarys e Fernando Scheibe
Para saber mais sobre os usos dos testes genéticos e questões relacionadas à genética na pesquisa genealógica, recomendo a leitura do volume específico sobre o tema na coleção Genealogia Prática.
José Araújo é linguista e genealogista.